O texto A boa notícia: salário está subindo há dois anos, de Paulo Moreira Leite, publicado no Brasil 247 neste domingo (22), parece ser aquilo que alguns setores da esquerda, especialmente os identitários, chamam de “disputa de narrativa”.

Segundo esse preceito, não haveria a verdade, mas uma disputa que quem vencesse seria o detentor da “narrativa” correta, ou verdadeira.

No mundo real, no entanto, a realidade continua sendo ela mesma, por mais que se tente encobri-la. Logo, dizer que o salário está subindo não vai melhorar os salários e a vida do trabalhador. A política econômica, o aumento criminoso dos juros, têm corroído os ganhos da classe trabalhadora.

Moreira Leite inicia o texto dizendo que “num país devastado por desastres ecológicos e uma permanente selvageria urbana, o DIEESE informa que a vida dos assalariados está melhor”. Não se sabe qual é a relação entre ecologia e salários, mas enfim, o informe de que a vida do assalariado está melhor não condiz com a realidade, o que se pode verificar com a queda de popularidade do governo Lula.

O jornalista, no entanto, afirma que “num levantamento realizado com o rigor de uma entidade de acompanha as negociações salariais há décadas, num serviço reconhecido pela precisão e rigor, o DIEESE informa que se acumulou um ganho real de 7,5% nos vencimentos com registro em carteira”. Na verdade, esse rigor do DIEESE é questionável; como, por exemplo, afirmar que o custo do aluguel corresponde a 33,3% do salário mínimo, o que nem de longe corresponde à realidade.

Em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, um imóvel popular, com um dormitório, pode custar entre R$1.200 e R$1.800. Sendo que o salário mínimo está valendo R$1.518.

Otimismo

Inabalável em sua “narrativa”, Paulo Moreira Leite diz que “o aumento coincide com o retorno do governo Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto, numa mudança que está longe de ser uma simples coincidência. A novidade ocorre a partir do retorno de Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto, num governo que criou um novo ambiente no país a partir do compromisso de recuperar as perdas salariais dos anos anteriores”.

As melhoras nos ganhos, se existem, são imperceptíveis. O governo Lula não consegue sequer aumentar o valor do Bolsa Família, que foi reajustado no governo anterior. De lá para cá, Lula ainda não apresentou nenhum programa que faça com que o trabalhador perceba uma melhora em sua condição de vida.

Segundo o jornalista, “Jair Bolsonaro abriu caminho para o arrocho, as perdas de direitos de trabalhadores e perseguição ao movimento sindical, num projeto nefasto de destruição de garantias e perdas de direitos”. A bem da verdade, esse ataque começou no governo do golpista Michel Temer.

Bolsonaro foi um continuador, colocou o Banco Central nas mãos dos banqueiros. Lula, por sua vez, nada fez para trazer o BC de volta para as mãos do governo. E seu indicado para presidir o banco, Gabriel Galípolo, tem sido pior que seu antecessor bolsonaristas, Campos Netto.

No penúltimo parágrafo, Moreira Leite afirma que “contribuindo para um merecido reforço ao padrão de vida dos assalariados e suas famílias, numa recuperação das condições de vida que está longe de terminada, os 7,5% valem como um justo prêmio a homens e mulheres que sustentam a maioria de brasileiras e brasileiros com o suor de seu rosto”.

O arroz subiu mais de 5%, o feijão segue de perto; o leite ultrapassou 6% de aumento. Então, esses 7,5% não estão comparecendo no bolso do trabalhador.

Índices não são comestíveis

Encerrando sua curta “narrativa”, Paulo Moreira Leite diz que “trata-se de uma conquista longe de encerrada, mas que representa a retomada de uma lição histórica que não pode ser abandonada, pois ali se aprende que a luta dos trabalhadores e trabalhadoras é um processo necessário e permanente. Não pode ser abandonado nem esquecido. É parte insubstituível do progresso e bem-estar dos povos”.

Não existe retomada ou lição histórica. O que temos é um governo implementando uma política econômica que tem soterrado a popularidade do governo, que por sua vez, não dá sinais de reação. Agora, que as eleições se aproximam, alguns setores do PT esboçam algo como “retomar as bases”, “reaproximar as bases”, mas tudo muito inócuo.

Andam dizendo que o Brasil voltou a ser uma economia importante. Os índices são todos sempre muito bons, mas ninguém come índices.

Dizer que o PIB cresceu não serve de nada se isso não se revertem em ganhos reais, em geração de empregos reais.

Nenhuma “narrativa” vai melhorar a aprovação do governo Lula, pois o que vale é o mundo de verdade, e aí as coisas não andam bem.

Outra coisa que se torna evidente é que o Congresso vai barrar quaisquer iniciativas do governo em promover mudanças efetivas para a vida do trabalhador. Contando apenas com acordos feitos com outros partidos, sem apoio efetivo da classe trabalhadora, o governo Lula vai ser boicotado pelos partidos da base e da oposição.

O plano da burguesia é “nem Lula, nem Bolsonaro”. Este último já está sendo devidamente caçado pelo Supremo. Quanto a Lula, é bombardeado pela grande imprensa sem piedade. E tudo vai piorar, conforme as eleições forem se aproximando.

Já se vê a criação de uma CPI para tratar da fraude do INSS, e nada impede que novos escândalos surjam. Se não houver um escândalo, nada impede que se fabrique um novo, como já ocorreu inúmeras vezes. Os propagadores de ilusões podem continuar com suas versões e números bonitos, mas a realidade está vencendo de goleada.

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Last Update: 23/06/2025