
A jornalista Alexandra Moraes, ombudsman da Folha, escreve na própria Folha que o jornal está em campanha aberta pelo extremista moderado Tarcísio de Freitas, porque ele consegue unir o que ela ainda chama de ‘establishment’, mas é na verdade a velha direita, o novo fascismo, a Faria Lima, os milicianos, os militares de pijama, os garimpeiros, os traficantes da Amazônia, os grileiros, os assassinos dos povos das florestas, os que tentam conter enchentes com sacos de areia, as facções da bala, do boi, da Bíblia, da homofobia, do racismo e da xenofobia e mais o pobre neopentecostal que acha que Israel adora Jesus Cristo, todos unidos contra Lula em nome da pátria, da família, de Malafaia, de Deus e do diabo, que finge não ter lado mas também é deles.

Abaixo, o texto da ombudsman na íntegra:
FOLHA DE S.PAULO
Alexandra Moraes
Tarcísio é um nome apoiado pela imprensa?
Informação deixada sem contraponto em reportagem da Folha gera ruído que prejudica o próprio jornal
“Tarcísio avança pelas bordas para 2026 e se equilibra para não melindrar Bolsonaro.” Publicado na última segunda (16), o texto era mais um dos que tentam indicar as costuras sendo feitas para as eleições do ano que vem.
No meio do relato, a Folha afirmava que, para aliados, Tarcísio de Freitas (Republicanos) “é um nome apoiado pelo mercado financeiro, pelo centrão e pela imprensa — e simbolizaria a candidatura do ‘establishment’”.
Peraí: “Pela imprensa”?! Esses aliados incluem a Folha no grupo? Talvez sim, talvez não, mas a afirmação era reproduzida pelo jornal sem nenhuma ponderação e assim permaneceu. Se a Folha também é “imprensa”, é no mínimo estranho que se veja nomeada num contexto opaco como esse e não busque esclarecê-lo.
O ruído se soma a outros problemas menores que, juntos, podem dar ou reforçar a impressão de que há condescendência do jornal com o governador, tanto à frente do Executivo estadual quanto em sua jornada nacional como candidato a avatar do inelegível Jair Bolsonaro (PL).
Em outro caso, uma sequência de notas tratava de formas bem diferentes projetos de natureza semelhante, em nível federal e estadual, de Lula e Tarcísio. A isenção do pagamento de conta de luz, sob Lula, era identificada como medida visando sua reeleição. Já a ampliação do desconto na conta de água e esgoto em SP não nomeava políticos (havia apenas um genérico “governo de SP”) e era tratada como “inclusão” desde o título, com destaque para seu aspecto social.
Também houve erro, já devidamente reconhecido e retificado, ao chamar de “pequena diferença” uma distância de 11 pontos nos índices de aprovação de Tarcísio e Geraldo Alckmin em período semelhante. Uma leitora viu nesse equívoco, em abril, um sinal de apoio a Tarcísio, o que afrontaria o apartidarismo apregoado pelo jornal em seus princípios editoriais.
A questão é que, apesar dos deslizes, o jornal também tem uma coleção razoável de material crítico ao governador. Se inicialmente promoveu sem muito contraditório a iniciativa de uma espécie de “Bolsa Família” de Tarcísio, mostrou que o projeto estadual “tem verba inferior à que governo deixou de gastar na área social”. Também evidenciou “distorções e omissões sobre golpismo” na defesa que Tarcísio fez de Bolsonaro. E, finalmente, usou o verbo certo em “Tarcísio bajula Bolsonaro” quando noticiou que o governador estava repetindo bordões do ex-presidente.
O problema, como quase sempre, está nos detalhes —e em evitar as armadilhas. Se a percepção dos próprios aliados é que se trata de um nome “apoiado pela imprensa”, pode ainda haver muito mais a ser mostrado.