
A ofensiva militar ordenada por Donald Trump contra instalações nucleares iranianas desencadeou uma onda de críticas dentro do próprio Congresso dos Estados Unidos. Parlamentares democratas e até republicanos aliados do presidente questionam a legalidade da ação, realizada sem consulta prévia ao Legislativo. Com informações da Folha.
O ataque, que destruiu três instalações no Irã, foi executado sem autorização do Congresso, o que reacendeu o debate sobre os limites constitucionais do poder de guerra do presidente. Pela Resolução dos Poderes de Guerra, o chefe do Executivo só pode agir militarmente em três situações: declaração formal de guerra, autorização específica do Congresso ou em resposta a um ataque direto aos EUA — nenhuma delas se aplica ao caso, segundo os críticos ouvidos pelo veículo.
“Isso não é constitucional”, afirmou o deputado republicano Thomas Massie, que apresentou uma resolução bipartidária para impedir novas ações militares sem autorização do Congresso. Warren Davidson, também republicano, alertou para a fragilidade legal da operação: “É difícil conceber uma justificativa que seja constitucional”.
Do lado democrata, a reação foi imediata. A deputada Alexandria Ocasio-Cortez afirmou que Trump “violou gravemente a Constituição e os poderes de guerra do Congresso”, e defendeu que o ato é passível de impeachment. Para o senador Tim Kaine, o ataque foi “uma guerra ofensiva por escolha”, e ele promete pressionar o Senado por uma votação que limite futuras ações do Executivo.

Mesmo o senador independente Bernie Sanders, em discurso no fim de semana, criticou a decisão: “A única entidade que pode levar este país à guerra é o Congresso dos EUA. O presidente não tem esse direito”, declarou, sob gritos de “sem mais guerra!” da plateia.
Apesar das críticas, o governo argumenta que líderes das duas Casas — Mike Johnson, da Câmara, e John Thune, do Senado — foram avisados pouco antes da operação, mas democratas afirmam ter sido informados apenas de forma lateral.
No domingo (22), o vice-presidente J.D. Vance e o secretário de Estado Marco Rubio tentaram minimizar a crise, dizendo que os EUA não estão em guerra com o Irã. Mesmo assim, Trump já ameaçou novos ataques caso Teerã não aceite negociar a paz.
A decisão surpreendeu até setores conservadores que tradicionalmente apoiam Trump. Figuras como Steve Bannon e Tucker Carlson, vozes influentes da direita americana, expressaram preocupação com o envolvimento direto dos EUA em mais um conflito no Oriente Médio — justamente o tipo de intervenção que Trump prometia evitar.
O ataque ocorre em meio ao recesso do Congresso, o que aumentou a insatisfação entre os parlamentares. “Francamente, deveríamos ter debatido isso”, disse Massie. Segundo o site Axios, Trump chegou a pressionar aliados para tentar destituir o congressista após as críticas.
A ofensiva contra o Irã pode ter consequências militares e políticas — e reacende um antigo embate institucional nos Estados Unidos: o limite entre a autoridade do presidente e os poderes do Congresso para declarar guerra.