Os Estados Unidos bombardearam três instalações-chave do programa nuclear iraniano no sábado (domingo no Irã, 22) ataques que terão “consequências eternas”, alertou Teerã, no décimo dia da guerra entre Irã e Israel.
Poucas horas depois, a televisão estatal iraniana noticiou o lançamento de 40 mísseis contra Israel, que causaram muitos danos e deixaram pelo menos 23 feridos, segundo os serviços de emergência.
O presidente Donald Trump afirmou que os ataques americanos “destruíram completa e totalmente” as principais instalações de enriquecimento nuclear do Irã e alertou para novos ataques caso Teerã não busque a paz.
Em Teerã, jornalistas da AFP relataram que o rugido dos aviões sobrevoando a capital podia ser ouvido por toda a cidade.
Após o ataque dos EUA ao Irã, Israel elevou o nível de alerta em todo o país e o Exército anunciou uma nova rodada de bombardeios no Irã.
A agência de notícias iraniana Isna noticiou a morte de quatro soldados em uma base no norte do país.
Em Ramat Aviv, um bairro residencial de Tel Aviv, algumas casas e prédios foram destruídos por mísseis iranianos.
“Nossa casa foi destruída, não sobrou nada”, disse à AFP Aviad Chernichovsky, morador local.
Em Jerusalém, Claudio Hazan, engenheiro de computação de 62 anos, disse esperar que, com a intervenção de Washington, a guerra entre Irã e Israel termine.
“Israel sozinho não conseguiu parar [a guerra] […] e levaria mais tempo”, disse à AFP.
“Buscar a paz”
“O Exército americano lançou ataques intensos de precisão contra três importantes instalações nucleares do regime iraniano: Fordow”, escondida sob uma montanha, “Natanz” e Isfahan”, anunciou Trump em um discurso televisionado à nação a partir da Casa Branca.
“As principais instalações de enriquecimento nuclear do Irã foram completa e totalmente destruídas. O Irã, o tirano do Oriente Médio, deve buscar a paz agora”, disse Trump.
Antes do ataque israelense ao Irã em 13 de junho, Washington e Teerã participaram de negociações sobre o programa nuclear iraniano com a mediação de Omã.
Essas negociações esbarraram na exigência dos EUA de que o Irã suspendesse completamente o enriquecimento de urânio, rejeitada pela República Islâmica.
Teerã negociava com Washington “quando Israel decidiu lançar essa diplomacia pelos ares” e se preparava para conversar com os europeus “quando os Estados Unidos lançaram a diplomacia pelos ares”, denunciou o chanceler iraniano, Abbas Araqchi, na rede social X, rejeitando os apelos europeus para retomar as negociações.
Araqchi disse que se encontrará com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou na segunda-feira.
A Guarda Revolucionária, exército ideológico do Irã, alertou os Estados Unidos para “retaliações das quais se arrependerão”.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, condenou neste domingo a “agressão” dos Estados Unidos, informou a agência de notícias Irna.
“Esta agressão provou que os Estados Unidos são o principal fator por trás das ações hostis do regime sionista contra a República Islâmica do Irã”, disse o presidente, acrescentando que os EUA intervieram após observar a “evidente incapacidade” de Israel.
O Exército israelense afirmou que tem “outros objetivos” no Irã e continuará sua ofensiva militar.
A humanidade “exige paz”
China e Omã condenaram veementemente os ataques dos Estados Unidos às instalações nucleares iranianas, assim como Riade, e pediram “uma redução imediata da tensão”. Iraque e Catar alertaram para o risco de desestabilização regional.
A chefe da diplomacia da UE pediu a “todas as partes que recuem”, e a Alemanha pediu ao Irã que retome “imediatamente” as negociações com os Estados Unidos.
O papa Leão XIV também pediu a redução da tensão, enfatizando que “a humanidade apela e exige paz”, ao final da oração do Angelus no Vaticano.
Nos últimos dez dias, bombardeios israelenses atingiram centenas de instalações militares e nucleares na República Islâmica, tirando a vida de militares de alta patente e cientistas envolvidos no programa nuclear.
O Irã, que nega buscar armas atômicas e defende seu direito a um programa nuclear civil, respondeu com lançamentos de mísseis e drones, a maioria interceptados pelos sistemas de defesa aérea israelense.
Segundo os últimos dados do Ministério da Saúde iraniano, divulgados no sábado, mais de 400 pessoas morreram e mais de 3.000 ficaram feridas desde o início da guerra.
Ataques de retaliação iranianos teriam deixado pelo menos 25 mortos em Israel, segundo autoridades israelenses.
Israel não é transparente sobre seu arsenal, mas o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) estima que o país tenha 90 ogivas nucleares.
Níveis de radiação estáveis
A autoridade de segurança nuclear do Irã declarou que não foram detectados sinais de contaminação nesses três locais e afirmou que não há perigo para a população. A autoridade nuclear saudita também não detectou efeitos radioativos no reino ou em outros estados do Golfo.
“Nenhum aumento nos níveis de radiação foi relatado” perto das usinas atacadas, indicou também a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), cujo secretário-geral, Rafael Grossi, anunciou uma “reunião de emergência” na segunda-feira.
Especialistas concordam que apenas os Estados Unidos têm capacidade para destruir as instalações nucleares profundas do Irã, como as de Fordow.
Trump havia declarado na sexta-feira que daria ao Irã um “prazo máximo” de duas semanas antes de uma possível intervenção militar, mas acabou decidindo agir.
Até agora, Washington se limitou a fornecer ajuda defensiva a Israel contra mísseis iranianos.
O Irã e seus aliados, incluindo os rebeldes houthis do Iêmen, ameaçaram retaliar interesses americanos no Oriente Médio se Washington interviesse diretamente na guerra.
Os houthis chamaram, neste domingo, o bombardeio americano de “declaração de guerra” contra o povo iraniano e disseram que estavam preparados para “atingir embarcações e navios de guerra americanos no Mar Vermelho”.
Segundo uma autoridade americana, a missão diplomática americana no Iraque reduziu seu quadro de funcionários.
Last Update: 22/06/2025