O grupo PCBR em seu sítio, Em defesa do comunismo, publicou uma matéria intitulada “Como combater o reacionarismo burguês e o liberalismo pós-modernista no mês do orgulho LGBTI+”, onde ele procura, sem sucesso, explicar por que a questão LGBT deveria ser o assunto central dos partidos revolucionários, tendo como gancho o “mês do orgulho LGBT”, impulsionado pelo imperialismo para fazer demagogia identitária e para ganhar dinheiro com produtos e serviços voltados a esse público. É nessa época que todas as grandes empresas capitalistas colocam arco-íris em seus produtos e procuram apelar aos simpatizantes dessa causa.

Para o PCBR, no entanto, esse é tema de primeira importância e deve ser alvo de reflexão e debate. Para eles, “é necessário que os comunistas combatam o fortalecimento da extrema direita fascista no mundo ao mesmo tempo em que enfrentam o liberalismo pós-modernista, que abraça as questões LGBTI+ sem um compromisso consequente com os dramas econômicos dessa mesma população e com a classe trabalhadora”. Veremos, porém, que o PCBR não combate a extrema-direita fascista de jeito nenhum e não deixa de abraçar o tal “liberalismo pós-modernista”, defendendo a exata política do imperialismo no que diz respeito a esse tema.

O articulista argumento que há um “fortalecimento do moralismo conservador”, o qual seria demonstrado pelo avanço nos “ataques aos direitos da população LGBTI+”, como “a recente resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) restringindo o acesso à hormonização terapêutica, o combate pelo governo de Donald Trump à população trans e a decisão, pela Suprema Corte britânica, definindo a mulher a partir do ‘sexo biológico’”.

A ideia de que isso seria um fortalecimento do moralismo conservador pode até ser correta, mas a causa não é uma ofensiva da burguesia. O que realmente acontece é uma reação de diversos setores da sociedade, inclusive de uma parcela menos poderosa da burguesia, ao identitarismo histérico e autoritário imposto pelo imperialismo (esse sim o setor mais poderoso da burguesia mundial) de forma truculenta à sociedade ao longo dos últimos anos. Medidas como definir a mulher a partir do “sexo biológico” não são nada estranhas, são naturais e óbvias, de qual outra forma se deveria definir uma mulher? O “combate” de Donald Trump aos “transexuais” também é por conta de sua definição da mulher com base em características biológicas.

No caso do Reino Unido, a definição dada pela Suprema Corte era justamente para regular uma legislação que iria dar benefícios às mulheres, como igualdade salarial, licença-maternidade, etc. Os identitários defendem que haja uma brecha na lei para que os homens usurpem benefícios que deveriam ser dados apenas às mulheres. Um oportunismo absurdo.

O PCBR defende que a guinada conservadora da sociedade seja uma política da burguesia para “dividir e nublar a consciência de classe. Por meio da demagogia reacionária e do chauvinismo sexista, a extrema-direita busca, entre outras coisas, desviar o foco dos problemas comuns e cotidianos dos trabalhadores para uma suposta ‘degradação moral da sociedade’”. No entanto, não se trata disso. O que ocorre é que há um anseio geral para que se reaja à política identitária. Além disso, existe, efetivamente, uma degradação moral da sociedade, ocasionada pela decadência do capitalismo. Negar isso é confundir a população.

Além disso, é um tanto despropositado um grupo defensor do identitarismo afirmar que haja uma tentativa de “dividir e nublar a consciência de classe”, ainda que ela possa até ser real. É sabido por todos que a política causadora de divisão no interior da classe operária é justamente o identitarismo, e é por isso que ela é tão impopular entre os trabalhadores. São os identitários que procuram colocar os homens contra as mulheres, os heterossexuais contra os homossexuais, os brancos contra os negros, ao defender que a opressão desses grupos é responsabilidade da sociedade de conjunto e não da burguesia ou dos setores mais poderosos.

Ao analisar um dos aspectos mais nocivos do identitarismo, que é justamente a criação de novas leis para punirem as pessoas por suas opiniões, o articulista afirma: “A criminalização da homofobia e transfobia, por exemplo, celebrada como uma forma de garantia de alguma dignidade a pessoas LGBTI+, acaba evidenciando, de muitas formas, os limites do movimento: ao mesmo tempo em que essa criminalização coexiste com os ataques ao direito ao atendimento especializado para a juventude trans e inúmeros projetos de lei anti-trans pelo país, ela se inscreve em um contexto de crescente criminalização dos mais pobres”.

Ou seja, o autor considera essa legislação autoritária positiva – seria uma forma de dar “alguma dignidade a pessoas LGBTI+”. O fato de isso aumentar a perseguição e o encarceramento dos mais pobres é um mero detalhe.

Para o PCBR, a luta pela revolução é a luta pela criminalização da homofobia, é a luta pela censura e pela perseguição. A explicação é que “Aqueles que buscam dirigir a atenção, o espírito de observação e a consciência da classe operária exclusivamente para si própria, considerada como uma entidade abstrata (sem gênero, sem raça, sem orientação sexual etc.) não é um comunista”. Uma afirmação totalmente absurda, pois é evidente que a luta revolucionária leva em consideração os mais diversos aspectos da classe operária, mas não é possível considerar que seja luta a promoção de uma política identitária proveniente do imperialismo, cuja função única é perseguir e censurar a população.

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Last Update: 21/06/2025