
Com a ofensiva israelense em Teerã no dia 12 de junho, cresceu o receio de que o conflito entre Irã e Israel se amplie. Em meio à troca de ameaças e ao uso de armamentos de última geração, uma questão estratégica volta ao centro do debate global: o estreito de Ormuz.
O Irã voltou a cogitar o bloqueio dessa passagem entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã, por onde circula boa parte do petróleo e gás que abastece países como Arábia Saudita, Emirados Árabes, Catar, Kuwait, Iraque e o próprio Irã. A rota é vital para o transporte de energia rumo à Índia, China e outras potências asiáticas.
Os dados confirmam a importância: em 2022, passaram por ali cerca de 21 milhões de barris por dia — o equivalente a 21% do consumo global. Mais de 25% de todo o petróleo transportado por navios no mundo e cerca de 20% do comércio mundial de gás natural liquefeito dependem da passagem por Ormuz.
Um bloqueio, mesmo que temporário, pressionaria a oferta, encareceria o transporte e elevaria os preços do petróleo e do gás no mercado internacional. O impacto seria imediato nos países asiáticos, especialmente China, Índia, Coreia do Sul e Japão. Embora os EUA dependam pouco da região, a reação em cadeia forçaria uma corrida por alternativas, puxando os preços para cima.
Apenas Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos possuem rotas alternativas. Os sauditas contam com um oleoduto que transporta até 7 milhões de barris por dia. Os Emirados têm uma linha com capacidade de 1,5 milhão de barris diários, que segue direto para o Golfo de Omã.

O Irã usa essa ameaça como forma de pressionar os EUA a não se envolver diretamente na ofensiva de Israel. Também quer forçar uma reação internacional, temendo uma nova guerra que atinja toda a região. Há poucos dias, o vice-premiê do Iraque, Fuad Hussein, estimou que um bloqueio poderia levar o barril de petróleo a US$ 300.
A tática, no entanto, carrega riscos. Se for levada adiante, pode justificar uma ação militar americana e afetar gravemente a economia iraniana. Em 2021, o fluxo por Ormuz respondia por mais de 18% do PIB do país. A China, principal compradora do petróleo iraniano e aliada no Conselho de Segurança da ONU, poderia se afastar caso seus interesses comerciais fossem afetados. Hoje, Pequim importa 1,8 milhão de barris por dia do Irã, um volume recorde.
Diante desse cenário, o presidente Donald Trump reacendeu as incertezas: “Ninguém sabe o que vou fazer”, disse. Um dia antes, havia exigido a rendição incondicional do Irã.