Brasil lidera novo roteiro para financiar ação climática até a COP30
O Brasil apresentou em Bonn, na Alemanha, um plano para destravar o financiamento climático internacional. Chamado de “Roadmap de Baku a Belém”, o documento conecta as discussões da COP29, realizada no Azerbaijão, às decisões que serão tomadas na COP30, em Belém do Pará, no Brasil.
A proposta foi apresentada pela embaixadora Tatiana Rosito, do Ministério da Fazenda. Ela representou o ministro Fernando Haddad em reunião com os 198 países membros da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
Segundo Rosito, o roteiro é uma resposta direta à urgência por recursos. O objetivo é transformar promessas em ações concretas. Assim, o Brasil busca garantir que o financiamento climático chegue aos países que mais precisam.
Meta é mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano
A meta é clara: mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2030. Esses recursos devem financiar ações de mitigação, adaptação e compensação de perdas e danos.
Para alcançar esse volume, o Brasil propôs um calendário. O Roadmap será finalizado até outubro de 2025, antes da Reunião Anual do FMI e do Banco Mundial.
Desde abril, o Círculo de Ministros de Finanças da COP30 trabalha na elaboração do documento. O grupo já reúne representantes de 32 países. A estratégia é combinar urgência política com soluções técnicas viáveis.
Reforma dos bancos multilaterais é prioridade
Um dos principais pontos do Roadmap é a reforma dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento, como o Banco Mundial e o FMI. O Brasil defende que essas instituições ampliem sua capacidade de empréstimos.
Para isso, será necessário otimizar os balanços e utilizar capital contingente. Segundo Rosito, a oportunidade atual é histórica. “Talvez não tenhamos visto uma chance como esta nos últimos 200 anos”, afirmou.
O plano também propõe aumentar o financiamento com condições especiais para países em desenvolvimento. O foco está em projetos de adaptação e em compensar perdas e danos causados pelas mudanças climáticas.
Financiamento a fundo perdido ganha espaço
Outro ponto destacado é a ampliação de recursos não reembolsáveis. O Brasil sugere a criação de novas linhas de doações diretas e fundos a fundo perdido.
Esses recursos seriam voltados principalmente para a proteção de ecossistemas e o apoio a populações vulneráveis. A proposta atende uma demanda antiga dos países em desenvolvimento.
A secretária-executiva da UNFCCC, Simon Stiell, reforçou a urgência da medida. Segundo ele, é essencial ampliar o financiamento público. Isso inclui o aumento de subsídios e a criação de instrumentos que não gerem dívida.
Brasil propõe plataformas nacionais para atrair investimentos
O Roadmap também prevê a criação de plataformas nacionais. Essas estruturas devem conectar projetos locais a investidores internacionais.
O objetivo é reduzir os riscos cambiais e facilitar a entrada de capital privado. Para isso, o plano sugere o uso de garantias financeiras e a formação de fundos que combinem recursos públicos e privados.
Essas plataformas devem atuar como um elo entre governos, bancos de desenvolvimento e investidores globais.
Regulação climática é outro foco do plano
Na fase final do Roadmap, o Brasil propõe o fortalecimento das regras para o financiamento climático. Entre as ações sugeridas estão a precificação de carbono e a exigência de relatórios climáticos por parte das empresas.
O plano também recomenda que os bancos centrais incorporem critérios climáticos na supervisão dos mercados financeiros.
Ana Toni, CEO da COP30, destacou que as delegações internacionais têm apoiado o roteiro brasileiro. “Os países reconhecem a necessidade de soluções financeiras novas. O desafio é transformar essa escala em ação concreta”, afirmou.
De Bonn a Belém: próximos passos na agenda climática
O Brasil deixou claro que o Roadmap precisa ser mais que um documento técnico. A intenção é transformar as discussões em resultados práticos e mensuráveis.
O próximo passo será entregar o documento final durante a Reunião Anual do FMI e do Banco Mundial, prevista para outubro deste ano. Até lá, o Círculo de Ministros seguirá coletando sugestões, avaliando propostas e negociando politicamente.
“Todas as prioridades estão interligadas e serão essenciais para mobilizar o US$ 1,3 trilhão. Nosso compromisso é entregar um documento estruturado, com recomendações objetivas e exemplos de ações reais”, concluiu Rosito.
Impacto esperado vai além do curto prazo
O Brasil aposta que o Roadmap de Baku a Belém tenha efeitos estruturais na arquitetura financeira global. A expectativa é reduzir a dependência de programas assistenciais. Além disso, o plano busca fortalecer os pequenos negócios verdes e ampliar a base de trabalhadores qualificados nos setores da nova economia climática.
Com isso, o país espera acelerar a transição para um modelo de desenvolvimento mais sustentável e inclusivo.