Em entrevista à TV GGN, a jornalista e líder do HumanizaCom/Universidade Metodista de São Paulo, Cilene Victor, analisou a cobertura da imprensa brasileira e ocidental sobre Israel e Irã. Para ela, a forma como os jornais abordam o tema transforma a guerra em uma “final de campeonato de futebol”.

A chamada mídia corporativa no Brasil apresenta as notícias sobre os ataques e os contextos da guerra com um tom de objetividade e neutralidade que, segundo Cilene, “cai por terra” dependendo do comentarista ou entrevistado convidado para explicar quem é o Irã e quem é Israel.

Cilene esteve no Irã por duas vezes e traz o ponto de vista de quem vivenciou de perto como a mídia iraniana cobre fatos que, no Ocidente, são apresentados de forma completamente diferente.

A lente da mídia

Cilene argumenta que a forma como os fatos são apresentados é fator determinante para influenciar a opinião pública sobre os conflitos armados. Nesse contexto, quando a mídia coloca os dois lados apresentando seus argumentos e destacando “quem é o país X e quem é o país Y”, acaba criando um clima de “final de campeonato de futebol”. Ou seja, oferece ao público “motivos para torcer” para um lado ou para o outro e ignora que, na cobertura de uma guerra, a imprensa também desempenha papel fundamental: a batalha de informações também faz parte da guerra. Quando se ignora o fato de se tratar de um conflito armado entre dois países e se passa a destacar apenas o que representa cada um e seus discursos, o jornalismo deixa de cumprir sua função de informar com equilíbrio.

A jornalista exemplifica com dois casos. O primeiro: no Ocidente, as informações oficiais do governo de Israel são noticiadas como “afirma Israel”. Já ao divulgar o posicionamento oficial do Irã, os jornais costumam fazer ressalvas, dizendo que o país é uma teocracia, que é fechado, e que por isso os dados podem não ser 100% confiáveis.

Outro exemplo da lente da mídia são as matérias com pautas paralelas à guerra. Cilene questiona: “O que leva um jornal do Brasil a publicar uma matéria sobre uma mulher iraniana que deixou o país por causa da opressão do Irã às mulheres?” Para ela, uma matéria com esse viés, no meio de um conflito armado envolvendo o país em questão, reforça um discurso contrário ao regime iraniano e cria a impressão de que esse posicionamento seria uma das motivações para a guerra — ou mais um motivo para o público “torcer” para o outro lado.

Cilene também critica a forma desigual como são apresentadas as informações de ambos os países. Ela aponta que os jornais brasileiros e ocidentais geralmente divulgam informações do governo israelense como “segundo o governo de Israel”, enquanto no caso do Irã os alertas são destacados: que se trata de uma teocracia, de um governo fechado, e que as informações não seriam totalmente confiáveis por virem de um país do Oriente Médio.

Como solução, Cilene defende que a imprensa deveria se posicionar com clareza e afirmar que as informações de ambos os lados são difíceis de checar e apurar, principalmente em um contexto de guerra, em que a informação também cumpre um papel estratégico.

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Last Update: 20/06/2025