Bandeiras de Israel e Irã

Há mais de 24 horas, o mundo está mergulhado numa escuridão informativa – e desinformativa – em torno das ações de Israel contra o Irã. Não há uma nota, uma linha, uma única frase sequer vinda das agências globais de notícias. Nem mesmo as manipulações de praxe, nenhum contorcionismo semântico, nenhuma das usuais acrobacias verbais da Reuters, da AFP ou de qualquer outro braço da engrenagem de desinformação que, há décadas, opera como extensão diplomática de Tel Aviv.

Nada. Apenas o vácuo. E o silêncio, quando emanado de estruturas habituadas a vender versões, é sempre sinal de que algo muito mais grave está em curso. As trevas não são neutras. São o espaço vital da maldade humana, o abrigo onde os nazissionistas urdem, planejam e executam suas ações de extermínio em massa.

Este silêncio se instalou após a encenação de um roteiro com cheiro de carnificina. No domingo, Netanyahu anunciou ao mundo sua intenção de assassinar Ali Khamenei. Na segunda, Israel Katz, ministro da guerra de Israel, repetiu a ameaça no Twitter: é fundamental matar Khamenei. Na quarta, Donald Trump entrou em cena, dizendo ter perdido a paciência com o Irã e insinuando que eliminar o líder supremo seria uma tarefa simples, quase trivial.

Todos conhecemos esse trio: fanfarrões, brigões de pátio de colégio, anciãos infantilizados, brutos, mas, acima de tudo, covardes na essência. E é aí que reside o perigo: covardes não têm controle sobre suas emoções. No caso deste tio mequetrefe, Trump – o mais infantil dos octogenários do planeta, atualmente encurralado pelas próprias crises internas – tem ao alcance de seus dedos o maior arsenal nuclear do planeta. Um de seus surtos, um de seus caprichos narcisistas, um átimo de medo pode empurrar o mundo para um colapso irreversível.

O roteiro das trevas encenado pelos três foi precedido por várias publicações alertando que Israel havia subestimado de forma grosseira a capacidade de autodefesa iraniana. O golpe veio e foi mais forte do que Tel Aviv ousava imaginar. O país que construiu sua reputação militar sobre o assassinato sistemático de civis desarmados – com especial dedicação ao massacre de crianças em Gaza – agora recua, cambaleante, e corre em desespero para os braços de Washington, implorando por uma intervenção.

Um interceptor voa no céu enquanto mísseis do Irã são disparados contra Israel, visto de Tel Aviv, Israel, 17 de junho de 2025. REUTERS/Jamal Awad

Ontem, fontes militares estadunidenses confirmaram que o plano de ataque ao Irã já está pronto. Só falta o gesto final de Trump: uma assinatura, um telefonema, um impulso de vaidade em meio a um de seus rompantes infantis. Na relação obscena entre os dois países, a dúvida permanece: quem é a serpente e quem é o ovo? Quem incita, quem executa? Quem planta e quem colhe? Nada impede que ambos desempenhem todos os papéis ao mesmo tempo. O perigo, agora, é que Trump e Netanyahu decidam cantar em uníssono a melodia da destruição.

Metaforicamente, o governo israelense encontra-se acampado em frente ao Pentágono, orando para pneus, com celulares na cabeça como se conversasse diretamente com as antenas Harpii, gritando “Forças Armadas, salvem Israel”, enquanto espera, já há 72 horas, pela decisão de Trump. Como todo covarde, Israel é valente apenas quando o alvo é frágil e está desarmado. Diante de um oponente que reage, sua altivez desaba em súplica.

Enquanto isso, está em curso hoje, em Genebra, reunião entre os ministros das Relações Exteriores das principais potências europeias com representantes iranianos, numa tentativa desesperada de construir um parapeito frágil contra o desabamento iminente.

Falam em cessar-fogo, em protocolos, em percentuais de enriquecimento de urânio, em negociações de última hora. De Teerã, a resposta veio rápida e seca: não haverá trégua. Não agora. Não enquanto o projeto expansionista de Israel permanecer intacto, sem rachaduras, sem o custo de sangue que o Irã promete impor.

Tudo soa como coreografia previsível de quem já intui o fracasso.

Bandeira iraniana nas ruínas do consulado do Irã na Síria, bombardeado por Israel, segundo a TV estatal iraniana – Firas Makdesi/Firas Makdesi – 1º.abr.24/Reuters

A hipocrisia, porém, tem múltiplos palcos, e Israel os ocupa todos. Enquanto se humilha diante do Pentágono e tropeça nas reuniões diplomáticas, mantém com rigor sua mais perversa rotina: o extermínio da população civil palestina. Hoje, mais um episódio de horror em Gaza: 25 mortos, entre eles 15 pessoas assassinadas enquanto aguardavam por comida junto a um centro de ajuda humanitária. Tanques e drones abriram fogo contra uma multidão faminta.

A crueldade não é acidente; é método. Não é desvio; é doutrina. Não é efeito colateral; é política de Estado. As mesmas mãos que agora suplicam por apoio militar contra o Irã são as que apertam o gatilho sobre mulheres e crianças, dia após dia, numa repetição mórbida de um genocídio que segue seu curso em câmera lenta.

E assim seguimos. O silêncio da máquina global de notícias permanece denso, pesado, quase sólido. A escuridão que o envolve não é casual. É o disfarce conveniente de quem precisa de tempo e sombra para concluir mais um capítulo de horror.

Mas, em Gaza, não há silêncio. Ali, o som das bombas continua: constante, meticuloso, pontual como um relógio suíço. Israel faz o que sabe fazer de melhor: assassina crianças palestinas. Com ou sem cobertura da imprensa mundial. Com ou sem testemunhas. Sempre.

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Last Update: 20/06/2025