Durante participação no podcast Mano a Mano, apresentado pelo rapper Mano Brown, o presidente Lula defendeu a taxação de setores altamente lucrativos e a promoção da justiça tributária. Em mais de duas horas de entrevista, publicada nesta quinta-feira (19), Lula falou sobre economia, educação, segurança pública e meio ambiente, sempre com foco na redução das desigualdades sociais.

Um dos trechos mais incisivos foi a defesa do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) proposto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “O IOF do Haddad não tem nada de mais. O Haddad quer que as BETs paguem imposto de renda, que as fintechs paguem imposto de renda, que os bancos paguem imposto”, afirmou o presidente.

Segundo ele, a medida é necessária para manter investimentos sociais sem comprometer o orçamento público. “Não é imposto de renda, é pagar um pouquinho só, pra gente poder fazer a compensação. Se eu tiver que cortar 40 bilhões do orçamento de obras, de rua, pra saúde, pra educação, eu tenho que ter uma compensação”.

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“É preciso fazer justiça tributária”

Lula apontou distorções no atual modelo tributário brasileiro e defendeu um sistema mais justo, onde quem ganha mais contribua proporcionalmente.

“Todo imposto que o rico paga, ele joga no preço do produto que fabrica. Quem compra aquele produto é que termina pagando o imposto”, explicou.

“Quem paga imposto de verdade nesse país é quem recebe salário no fim do mês, recebe contracheque. Nós queremos que uma parte mais rica, quem ganha acima de um milhão por ano, pague um pouquinho para poder beneficiar as pessoas mais pobres que ganham até cinco mil reais”, argumentou. “É importante que a gente faça justiça tributária.”

Ao lado da jornalista Semayat Oliveira, Mano Brown conduziu uma conversa que também incluiu reflexões sobre o atual momento político do Brasil.

Lula disse que encontrou um país desestruturado ao reassumir a Presidência, e tem como missão reconstruir políticas sociais. “Quando chegamos aqui, nós pegamos um país semidestruído. Não tinha mais Ministério do Trabalho, nem da Cultura, dos Direitos Humanos ou da Igualdade Racial. Tinha sido uma destruição proposital”.

O presidente destacou ainda a retomada do crescimento econômico, com números recentes que indicam melhora significativa no emprego. “Crescemos 3,2% em 2023, crescemos 3,4% em 2024, e vamos continuar crescendo”.

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Democracia com direitos garantidos

Para Lula, a democracia só será de fato compreendida pela população quando garantir acesso a direitos básicos. “O povo só vai compreender a democracia se ela garantir os direitos elementares ao povo trabalhador, ao povo mais pobre, da periferia, do campo. Nosso lema é fazer com que a democracia vingue neste país, trazendo benefício para o povo.”

Ele reforçou seu compromisso em promover a mobilidade social. “Minha obsessão agora é que o pobre deixe de ser pobre e passe a ser um cidadão de classe média, com alimentação, vestuário, escolaridade”.

O presidente destacou ainda os programas voltados à juventude, como o Pé-de-Meia e Escola em Tempo Integral, essenciais para reduzir a evasão escolar e combater a violência. “O Pé-de-Meia é um programa educacional que livra a meninada de 14, 15, 16 anos da violência. Ela vai ficar na escola, não vai ficar na rua.”

Segundo ele, o modelo integral também garante tranquilidade às famílias. “Os pais vão poder trabalhar sabendo que a molecada está dentro de uma escola, aprendendo humanas, exatas, aprendendo cultura, aprendendo o que quiser.”

Segurança pública exige articulação nacional

Ao tratar da segurança, Lula destacou as limitações constitucionais do Governo Federal. “A Constituição de 1988 deu o comando da segurança pública para os estados. O que o Governo Federal cuida? Das Forças Armadas, da Polícia Federal e da PRF.”

Para ampliar a atuação federal, explicou que foi proposta uma PEC definindo papel mais ativo da União. “Queremos interceder no combate à violência, antecipar sua existência. Para isso, mandamos um comando da Polícia Federal para Manaus, para cuidar da nossa fronteira, da luta contra o garimpo, do desmatamento.”

COP30, Amazônia e dívida climática

A realização da COP30 em Belém foi outro ponto de destaque da entrevista. Lula lembrou o empenho brasileiro com o desmatamento zero até 2030. “A Amazônia ainda tem grande parte com floresta intacta. Meu compromisso é chegar até 2030 com desmatamento zero. Por isso estou levando a COP para lá.”

O presidente cobrou os países desenvolvidos pelas promessas não cumpridas de financiamento ambiental: “Eles prometeram doar 100 bilhões de dólares por ano. Não doaram. De 2009 pra cá, a dívida já é de 1 trilhão e 300 bilhões de dólares. E eu já vi que eles não vão dar.”

Lula encerrou a conversa refletindo sobre o desafio de se comunicar com os jovens em tempos de redes digitais. “A juventude precisa de uma linguagem renovada. Hoje, cada um é seu próprio repórter, sua própria notícia. A gente está trabalhando nisso, pra entender e se comunicar com esse novo mundo.”

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Da Redação, com informações da Agência Gov

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Last Update: 20/06/2025