Reinaldo Azevedo e Mônica Bérgamo, jornalistas espionados pela Abin de Bolsonaro. Foto: reprodução

A jornalista Mônica Bergamo foi uma das vítimas da chamada “Abin Paralela”, estrutura de espionagem ilegal montada durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). A informação consta no inquérito da Polícia Federal que levou ao indiciamento de mais de 30 pessoas, incluindo o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), apontado como um dos coordenadores do esquema.

O caso expõe o uso indevido de recursos públicos para monitorar autoridades, jornalistas e servidores públicos considerados desafetos do governo anterior.

Segundo a PF, Bergamo foi alvo de investigações clandestinas sem qualquer justificativa legal, em um contexto de perseguição política e ideológica. Ela figura ao lado de outros profissionais da imprensa como Vera Magalhães, Reinaldo Azevedo, Ricardo Noblat, Leandro Demori e Luís Nassif, todos monitorados por agentes da Abin sem mandado judicial ou processo formal.

A própria Mônica comentou o caso em tom irônico, durante participação no programa da rádio BandNews FM, onde é colunista. “A minha atividade mais comprometedora é aqui nessa rádio, que é aberta para todo mundo”, disse a jornalista.

Apesar do tom descontraído, ela reconheceu a gravidade da situação: “É realmente uma invasão […] espionar autoridades é de uma gravidade enorme, ainda mais do Judiciário”.

O caso veio à tona após o ministro Alexandre de Moraes, do STF, retirar o sigilo do relatório final da PF sobre a atuação da Abin durante o governo Bolsonaro. O documento aponta que a estrutura paralela de inteligência agia à margem da legalidade e sob forte influência do chamado “gabinete do ódio”, grupo próximo da família Bolsonaro.

Entre os alvos da espionagem ilegal estavam nomes do Judiciário, como os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux; do Legislativo, como Arthur Lira, Kim Kataguiri, Joyce Hasselmann e Jean Wyllys; e do Executivo, como João Doria. Também foram espionados servidores do Ibama, auditores da Receita Federal e integrantes da CPI da Covid.

No caso de Mônica Bergamo, há ainda o relato de que seu marido suspeitava de estar sendo seguido, embora a jornalista não tenha percebido indícios diretos de vigilância.

Ela revelou que o companheiro chegou a comentar, na época, sobre a possibilidade de estarem sendo monitorados: “Ele teve essa sensação, falava: ‘acho que estão te seguindo’”.

A investigação também aponta possíveis tentativas de obstrução no andamento do caso. O atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, é acusado por servidores da própria agência de atrapalhar os trabalhos internos de apuração. Ainda assim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu mantê-lo no cargo enquanto aguarda eventuais denúncias formais por parte da Procuradoria-Geral da República.

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Last Update: 19/06/2025