O setor produtivo e os consumidores criticaram a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) em aumentar a taxa básica de juros de 14,75% para 15% ao ano nesta quarta-feira, mas a medida já era precificada pelos analistas

Embora a alta dos juros não seja um movimento favorável para o consumidor e para o setor produtivo, analistas do mercado financeiro dizem que a decisão foi “acertada” e que seus efeitos serão acompanhados ao longo do segundo semestre.

Veja abaixo a opinião de alguns analistas e estrategistas sobre a decisão do Copom em elevar a taxa Selic para 15% ao ano.

Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez

O BCB optou por uma decisão acertada, entregando um aumento da taxa de juros acompanhado de uma comunicação que reforça a expectativa em uma autoridade monetária independente, comprometida com o cumprimento de seu mandato.

O plano base agora é deixar a taxa Selic de 15% agir por um período “bastante prolongado”, monitorando de perto seus efeitos acumulados ainda não observados.

No entanto, o Comitê enfatizou sua vigilância, afirmando que as futuras decisões de política monetária permanecem flexíveis e que não hesitará em retomar o ciclo de aumento de juros, se necessário.

Marcelo Bolzan, planejador financeiro CFP e sócio da The Hill Capital

O mercado vinha bastante dividido quanto à manutenção ou à subida para 15%, e foi uma decisão que podemos dizer que já era guardada. O mercado estava dividido, tinha argumentos aqui tanto para manter quanto para subir.

Eu entendo que a subida foi um tom bastante positivo. Eles já deixam aqui um guidance, ou seja, uma sinalização dos próximos passos de uma interrupção do processo de subida de juros.

Se tudo continuar como está, eles vão parar de subir juros e fazer uma pausa. Eles não falam aqui de um encerramento de ciclo, mas entendo que de fato é isso sim.

Minha expectativa aqui é que depois dessa subida de 15%, que a Selic continue nesse patamar até o final do ano, mesmo o Banco Central deixando em aberto. Acredito que é um fechamento realmente com chave de ouro.

Os diretores do Banco Central poderiam já ter parado de subir juros até porque o mercado estava dividido, e eles optaram por fazer esse novo aumento. Então, sem dúvidas, vejo um tom hawkish.

A decisão mostra que eles estão sim comprometidos em fazer essa inflação convergir e acredito que vamos ter uma leitura bastante positiva para os mercados no que diz respeito às curvas de juros (…)

Fabricio Echeverria , fundador e CEO da Oby Capital

O Copom, que decidiu elevar a taxa Selic de 14,75% para 15,00% ao ano, é possível observar uma decisão ancorada em um diagnóstico de persistência inflacionária, tanto nas métricas observadas quanto nas expectativas futuras.

O Comitê destaca que, embora haja sinais incipientes de moderação no crescimento da atividade doméstica, a inflação cheia e suas medidas subjacentes continuam acima da meta. A projeção de inflação para 2026 — horizonte relevante para a política monetária — permanece em 3,6%, acima do centro da meta de 3%, com as expectativas para 2025 e 2026 em 5,52% e 4,50%.

Diante desse quadro, o Copom vê como necessário manter uma política monetária significativamente contracionista por um período prolongado.

Apesar do ajuste adicional, o Copom sinaliza que a continuidade do ciclo de alta não é garantida. A indicação de que poderá haver uma “interrupção” na próxima reunião demonstra um posicionamento mais data-dependent e pragmático: o Comitê deseja avaliar os impactos defasados do ciclo de aperto já implementado.

O equilíbrio entre o risco de manutenção da inflação acima da meta e o custo de uma política monetária prolongadamente restritiva para a atividade será central nas próximas decisões.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos

A decisão do Copom de elevar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, levando-a a 15% ao ano, sinaliza uma possível manutenção na próxima reunião. O comunicado veio dentro do esperado, mesmo para quem projetava estabilidade, e reforça os desafios tanto no cenário doméstico quanto internacional.

Há riscos inflacionários em ambas as direções e as expectativas seguem pressionadas, tanto para 2025 quanto para 2026. O grande ponto de atenção agora é observar, até o fim do mês, o comportamento da curva de juros e das expectativas de inflação. Se o Boletim Focus e o mercado começarem a ajustar para baixo as projeções de 2026 e 2027, pode haver algum alívio.

Ricardo Pompermaier, estrategista-chefe da Davos Investimentos

A decisão do Copom foi unânime, apesar de um mercado bastante dividido entre manutenção e a elevação que acabou prevalecendo. O Banco Central optou por um movimento mais conservador em meio à desaceleração da atividade econômica e à melhora de alguns indicadores de curto prazo, inclusive o câmbio, que tem colaborado para manter a inflação mais controlada.

O comunicado sinaliza uma pausa daqui para frente, com manutenção da taxa em patamar elevado por um período prolongado. Ao mesmo tempo, deixou claro que não hesitará em retomar as altas caso as expectativas de inflação voltem a subir.

A escolha de apertar ainda mais a política monetária, mesmo com uma conjuntura mais benigna no curto prazo, busca reforçar a credibilidade da autoridade monetária. É uma decisão que mira, acima de tudo, a ancoragem das expectativas e a preservação do regime de metas, diante de um cenário fiscal ainda frágil e de incertezas persistentes.

Alexandre Pletes, head de renda variável na Faz Capital

A decisão do Copom de elevar a Selic em 0,25 ponto percentual veio dentro de um cenário já dividido entre manutenção ou um último ajuste de menor magnitude — algo que vinha sendo sinalizado inclusive em falas recentes do diretor Diogo Guillen.

Acreditamos que a autoridade monetária já caminha para o encerramento do ciclo de alta, mas esse movimento pode ter sido influenciado por fatores adicionais, como o aumento das tensões no Oriente Médio, que elevam a incerteza sobre os preços do petróleo e, por consequência, sobre a inflação futura.

Além disso, aspectos domésticos continuam no radar: o quadro fiscal segue frágil e a atividade econômica mostra resiliência, o que também pode ter contribuído para a decisão.

Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital

Como esperávamos, em decisão unânime, o Banco Central elevou a Selic em 25 pontos-base, para 15% ao ano – o maior nível desde 2006 – e sinalizou uma pausa no ciclo de alta para avaliar os efeitos acumulados do aperto já implementado.

Em nossa leitura, esta foi a última elevação do ciclo, que totalizou 450 pontos-base desde setembro (…) Em nossa opinião a comunicação adotou um tom duro, ao reforçar a estratégia de manter os juros elevados por um período “bastante” prolongado, além do compromisso com a convergência da inflação à meta de 3%, quando explicita nova alta de juros se o cenário divergir do esperado por eles.

Com relação aos riscos para a inflação, a avaliação é de que tanto os de alta quanto de baixa seguem mais elevados do que o usual, sem mencionar assimetria ou simetria. Em nossa opinião, o Copom vê os riscos ainda assimétricos, porém em menor grau do que em decisões anteriores. 

Dito isso, apesar do encerramento do ciclo, o cenário atual permanece desafiador: expectativas desancoradas, projeções de inflação ainda elevadas, economia resiliente e mercado de trabalho pressionado.

Isso implica que, principalmente, a atividade econômica será avaliada com profundidade a cada dado divulgado até que a inflação corrente dê sinais contundentes de convergência à meta no horizonte relevante.

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Last Update: 19/06/2025