O horror dos horrores. Desde o holocausto dos judeus na Segunda Guerra Mundial, a humanidade não testemunhava de forma tão explícita, tão documentada e tão instantânea atrocidades dessa magnitude como as que estamos presenciando em Gaza. E o pior: dessa vez com o apoio cúmplice, tácito e infame dos mesmos países que se autoproclamam guardiões dos direitos humanos, da democracia e dos valores humanísticos.

Mais um dia de massacres em Gaza. Os últimos ataques – que têm se intensificado dramaticamente nos últimos dias – mostram tanques israelenses disparando contra multidões de famintos. Não há como disfarçar ou alegar que se trata de confrontos com milícias ligadas ao Hamas, quando sabemos que o próprio Netanyahu já admitiu estar financiando gangues criminosas para desestabilizar ainda mais uma situação já completamente caótica na região.

O que presenciamos é simplesmente insuportável. Organizações criadas com o apoio dos serviços de inteligência americanos e israelenses estão utilizando os centros de distribuição de alimentos como iscas para atrair multidões de famintos, transformando-os em alvos de uma espécie macabra de “Jogos Vorazes” em que civis inocentes são executados a sangue frio. O número de feridos cresce exponencialmente, e o número de mortos é absolutamente aterrorizador.

Os hospitais não conseguem mais atender à demanda, especialmente sob o bloqueio total que impede a entrada de medicamentos e anestésicos. As unidades de saúde recebem crianças mutiladas com ferimentos atrozes, que precisam ter membros amputados sem qualquer tipo de anestesia, enquanto pessoas agonizam e morrem nos corredores sem qualquer possibilidade de atendimento adequado.

A rotina diária do terror

Pelo menos 84 pessoas foram assassinadas em ataques israelenses em toda a Faixa de Gaza nesta quinta-feira, enquanto palestinos desesperados continuam arriscando suas vidas em busca de alimento em meio a uma crise humanitária que se aprofunda a cada dia. Entre os mortos desde o amanhecer, 59 estavam na Cidade de Gaza e região norte, e outros 16 aguardavam assistência humanitária próximo ao Corredor Netzarim, que divide o território entre norte e sul.

É revoltante testemunhar como palestinos famintos se reúnem diariamente na região para receber pacotes da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma organização apoiada pelos Estados Unidos e Israel que as próprias Nações Unidas condenaram pela “militarização” da ajuda humanitária. Que cinismo! Que perversidade institucionalizada!

Bassam Abu Shaar, testemunha ocular do ataque israelense no local de distribuição de ajuda, relatou à agência AFP que as pessoas se concentraram durante a madrugada na esperança de receber alimentos. “Por volta da uma hora da manhã, começaram a atirar contra nós. Os disparos se intensificaram vindos de tanques, aeronaves e drones armados”, disse por telefone. “Não conseguíamos ajudar as vítimas nem mesmo escapar”, acrescentou, explicando que a densidade da multidão tornou impossível a fuga do fogo israelense próximo à Junção Shuhada.

A estratégia diabólica da fome como arma

Nas últimas semanas, os ataques israelenses contra palestinos que tentam receber ajuda alimentar aumentaram drasticamente, resultando na morte de dezenas de pessoas. Trata-se de uma estratégia diabólica: utilizar a fome como arma de guerra, atrair civis desesperados com a promessa de comida e depois massacrá-los impiedosamente.

Tareq Abu Azzoum, correspondente da Al Jazeera em Deir el-Balah, no centro de Gaza, denunciou que os ataques contra pessoas em locais de distribuição de ajuda se tornaram uma “rotina diária”. Mais de três meses de bloqueio total das passagens fronteiriças transformaram Gaza em um território de fome absoluta, onde a população esgotou todos os tipos de suprimentos humanitários e agora se vê forçada a se dirigir a centros designados em busca de sacos de farinha, garrafas de água e caixas de alimentos que, segundo especialistas em nutrição, possuem valor nutricional insuficiente.

“Esses ataques continuam se desenrolando, transformando todos os corredores humanitários em campos de extermínio”, declarou o jornalista. Que palavras poderiam descrever com mais precisão essa barbárie sistemática?

A Hipocrisia e as Mentiras do Exército Israelense

Segundo a agência Reuters, o exército israelense alegou, sem apresentar qualquer evidência, que houve tentativas de “elementos suspeitos” se aproximarem das forças na área de Netzarim de forma “ameaçadora”. O comando militar acrescentou que as tropas dispararam “tiros de advertência” para impedir a aproximação desses “suspeitos”, e que “não tinha conhecimento” de ferimentos no incidente.

Que mentira descarada! Que cinismo institucional! Chamam de “elementos suspeitos” pessoas famintas em busca de comida. Falam em “tiros de advertência” quando na realidade estão executando civis indefesos. É a desumanização completa e sistemática do povo palestino.

O massacre sistemático continua

Em ataque separado, um drone israelense bombardeou uma tenda improvisada onde palestinos carregavam seus dispositivos eletrônicos no Campo de Refugiados Al Shati, matando 13 pessoas. Simultaneamente, aeronaves israelenses lançaram ataques aéreos intensivos e bombardearam diversas residências em Jabalia, no norte de Gaza.

Hind Khoudary, correspondente da Al Jazeera em Deir el-Balah, destacou que o ataque israelense ao ponto de carregamento no campo Al Shati ocorreu depois de “mais de um ano e meio” sem fornecimento de energia elétrica na região. Imaginem a crueldade: pessoas que vivem há mais de um ano sem eletricidade, tentando carregar seus dispositivos para manter algum contato com o mundo exterior, são bombardeadas por essa simples tentativa de comunicação.

Os ataques aos centros de distribuição de ajuda evidenciam a situação “deteriorante” em Gaza, que força os palestinos a colocar “suas vidas em risco por alimento”, acrescentou a jornalista. “Apenas um número extremamente limitado de caminhões consegue entrar em Gaza diariamente, e as pessoas estão desesperadas; elas estão sendo assassinadas enquanto tentam pegar qualquer coisa que esteja nos caminhões.”

Os números aterrorizantes do genocídio

Nas últimas 24 horas, 69 corpos – incluindo dois recuperados após ataques – e 221 pessoas feridas deram entrada nos hospitais do território sitiado, segundo fontes médicas. Desde o início desta guerra genocida em outubro de 2023, pelo menos 55.706 pessoas foram mortas e 130.101 ficaram feridas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.

Esses não são meros números estatísticos. São vidas humanas ceifadas. São crianças, mulheres, idosos, famílias inteiras dizimadas pela máquina de guerra israelense enquanto o mundo assiste em silêncio cúmplice e covarde.

A cumplicidade internacional vergonhosa

E onde estão os autoproclamados “defensores dos direitos humanos”? Onde estão os países que se dizem civilizados e democráticos? Onde estão as sanções econômicas? Onde está a indignação internacional que testemunhamos em outros conflitos? O silêncio ensurdecedor da comunidade internacional diante deste genocídio representa uma mancha indelével na consciência da humanidade.

Israel se aproveita estrategicamente da distração mundial com o conflito contra o Irã para acelerar seu projeto genocida em Gaza. Enquanto os holofotes midiáticos se voltam para os mísseis e ataques entre Israel e Irã, o massacre silencioso e sistemático dos palestinos prossegue, dia após dia, hora após hora, com a precisão cirúrgica de quem planeja metodicamente o extermínio de um povo inteiro.

Isso não é guerra. Isso é genocídio. E todos nós somos testemunhas desta atrocidade histórica que mancha para sempre a dignidade humana.

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Last Update: 19/06/2025