O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central aumentou a taxa básica de juros pela sétima reunião consecutiva, levando a taxa Selic para 15% ao ano, em decisão que afeta consideravelmente o bolso das famílias e do setor produtivo.
“Os juros altos desestimulam os investimentos e o consumo, cenário que impacta no mercado de trabalho. O Brasil estaria gerando muito mais vagas de emprego, de qualidade, com salários melhores, não fosse essa política monetária do Banco Central”, explicou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira.
O índice de 15% leva o Brasil a praticamente empatar com a Rússia (um país que está em guerra desde fevereiro de 2022) na primeira colocação do ranking mundial de juros reais (a diferença entre a taxa Selic e a inflação projetada).
Ao analisar esse quadro, o economista do Dieese, Gustavo Cavarzan, observou que houve um forte aumento dos juros cobrados, no período, pelo sistema financeiro. “Um exemplo são os juros cobrados à pessoa física (ou seja, para a população em geral), que passou de uma média de 36% ao ano, em 2021, para mais de 56% ao ano, em 2025″, completou.
De acordo com Cavarzan, o aumento efetuado pelo Banco Central irá gerar um gasto anual adicional ao governo de R$ 12,2 bilhões. Porém, nos últimos 12 meses (concluídos em abril de 2025) o governo gastou R$ 928,4 bilhões com os juros da dívida – o equivalente a 7,71% do PIB.
Cenário exige política alinhada com desenvolvimento
Segundo Felipe Queiroz, economista-chefe da APAS (Associação Paulista de Supermercados), a decisão do Banco Central não foi a mais assertiva diante do contexto global.
“Havia espaço para estabilidade e até mesmo para queda da taxa. Neste patamar, prejudicamos os investimentos de médio e longo prazo do país, encarecendo os custos de produção, desestimulando o consumo das famílias e prejudicando o nível da atividade geral. Não há justificativas para uma taxa de juros neste patamar”, segundo Queiroz.
Na visão do economista, o cenário atual demanda uma política macroeconômica muito mais alinhada com o desenvolvimento macroeconômico doméstico, com estímulo à produção e ao desenvolvimento.
Mesmo assim, a perspectiva dos agentes econômicos é de um crescimento de 2,2% no PIB brasileiro ao final deste ano. De acordo com Queiroz, se a taxa de juros fosse “mais civilizada”, o crescimento “seria muito maior”.