Mísseis sobre Tel Aviv. Foto: Menahem Kahana / AFP

Os ataques lançados por Israel contra o Irã nas últimas semanas — incluindo bombardeios a instalações nucleares e a execução de comandantes militares — marcaram uma ofensiva ousada, mas expuseram uma possível avaliação equivocada por parte do governo israelense. A expectativa de ver o Irã enfraquecido não se concretizou.

Pelo contrário, o país demonstrou capacidade de resistência, reorganização e resposta militar rápida.

O Irã reagiu com uma série de mísseis que conseguiram atravessar defesas consideradas entre as mais avançadas do mundo, como o Domo de Ferro, David’s Sling e o sistema Arrow. Especialistas apontam que Israel superestimou sua própria capacidade de neutralizar o arsenal iraniano e subestimou a habilidade do inimigo de manter o controle, mesmo após a morte de figuras-chave.

A investida contra instalações nucleares como Natanz teve danos limitados. Partes importantes, especialmente as áreas subterrâneas, seguem operacionais. Outras, como o complexo de Fordow, continuam intocadas. A avaliação é que apenas bombas americanas de penetração profunda lançadas por bombardeiros B-2 teriam potência suficiente para destruir esses locais, o que está além da capacidade atual de Israel sem apoio externo.

Ao mesmo tempo, o Irã reforçou sua posição no campo diplomático e interno. O país ameaça abandonar o Tratado de Não Proliferação Nuclear, enquanto acelera atividades relacionadas ao enriquecimento de urânio. A ofensiva israelense, que pretendia conter o programa nuclear iraniano, pode ter tido o efeito oposto.

Danos em residências no local do impacto após o ataque de mísseis do Irã contra Israel, em Tel Aviv, Israel. Foto: REUTERS/Moshe Mizrahi

A defesa israelense também foi colocada em xeque com a revelação de que os mísseis iranianos não apenas ultrapassaram seus sistemas, mas possivelmente confundiram as camadas de defesa, fazendo com que partes do sistema se atacassem entre si. Isso levantou dúvidas sobre a real eficácia da estrutura militar de Israel diante de um adversário que vem se adaptando tecnologicamente.

Mesmo após o assassinato de líderes importantes, o Irã mostrou capacidade de recomposição. A Guarda Revolucionária, estrutura central do poder militar iraniano, se reorganizou com rapidez. A crença de que decapitar o comando comprometeria a capacidade operacional do Irã se mostrou infundada. A hierarquia foi mantida, e o sistema resistiu.

Apesar de não assumir oficialmente que pretende derrubar o regime iraniano, os alvos escolhidos e o tom das declarações israelenses sugerem essa intenção. Mas qualquer plano nesse sentido esbarra na realidade: o Irã já sobreviveu a guerra, sanções e isolamento. Nenhuma ofensiva aérea foi suficiente para provocar mudanças de regime no Oriente Médio — seja na Sérvia, na Líbia ou no Iraque.

O líder Supremo do Irã, Ali Khamenei. Foto: AFP

Sem meios para alcançar esses objetivos sozinho, Israel tenta pressionar os Estados Unidos a se envolver diretamente no conflito. Mas esse esforço enfrenta resistência. O presidente Donald Trump, por exemplo, bloqueou recentemente um plano israelense de assassinar o aiatolá Ali Khamenei. Ele pediu que os dois países “cheguem a um acordo”, embora admita que novos combates ainda devem ocorrer.

Os EUA entendem os riscos de uma guerra direta com o Irã: impacto no mercado global de petróleo, riscos para suas tropas no Oriente Médio e possibilidade de um conflito de grandes proporções com múltiplos atores. Até agora, tudo indica que Washington prefere conter a escalada e evitar envolvimento direto.

Ao atacar com audácia, Israel mostrou capacidade de ação, mas também revelou uma leitura errada da força e da resiliência iranianas. Com isso, arrasta a região para um ponto de tensão extremo, em que o risco de uma guerra aberta — e com participação americana — se torna cada vez maior.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 19/06/2025