Um brioche e duas perguntas, por Eduardo Silva

A parte civilizada da humanidade precisa dar os parabéns e guardar como exemplo a atitude de políticos e partidos que abriram mão de projetos próprios para evitar a chegada da extrema direita ao poder na França.

Felicitações também devem ser enviadas ao presidente Emmanuel Macron que, ousado, mandou o aviso quando recebeu o resultado das eleições para o parlamento europeu e ajudou a desmontar a bomba fascista. Por enquanto, pelo menos.

Dadas as características do sistema eleitoral local, os potenciais extremistas perderam; mas a vitória, por outro lado, não tem um único perfil nem uma única “cara”.

O que nos leva à primeira das duas perguntas do título deste artigo: e agora, o que acontece com a França?

A natureza da aliança feita às pressas para engavetar o fascismo explica a pergunta; afinal, há socialistas, verdes, centristas, direitistas – todos evidentemente com visões distintas de país e de administração.

O futuro breve dirá se essa grande frente republicana vai sobreviver, mas é provável que se despedace tão rapidamente como se formou, com consequências para a cadeira de primeiro-ministro e para a governabilidade.

Do outro lado da cerca, não nos esqueçamos, a extrema direita quase dobrou de tamanho em dois anos, passando de 88 para 143 cadeiras no parlamento francês.

A ainda mais vistosa fascista local, Marine Le Pen, avisou que a vitória da extrema direita “foi apenas adiada”, o que nos leva à segunda – e mais complexa – pergunta do título deste artigo: como evitar a manutenção do crescimento de forças retrógradas, negacionistas, racistas e não-civilizadas, uma vez que são cada vez mais legitimadas pelo voto?

A França, imortal em nossas mentalidades como berço das luzes e do saber da modernidade (há quem diga que, especificamente neste aspecto, o verdadeiro berço seja o finado Império Austro-Húngaro) escapou novamente do retrocesso. Os movimentos de seu presidente e parte de seus políticos engavetaram momentaneamente a guinada para a extrema direita. Talvez estejam no caminho para descobrir, finalmente, que ações práticas de conscientização e inclusão política funcionam melhor que microfragmentações de mini minorias que são encantadoras em cafés de bairros de elite ou reels do Instagram, mas não aplacam, na vida real, a fome que os excluídos têm de pão. Ou de brioches.

Eduardo Silva é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.

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Última Atualização: 08/07/2024