Fábio Bosco, direto do Cairo (Egito)*
A Marcha Global a Gaza reuniu cerca de quatro mil ativistas de mais de 80 países na cidade do Cairo no dia 12 de junho.
Seu objetivo era caminhar 50 km desde a cidade de Al-Arish até a fronteira de Gaza, onde realizariam um acampamento de 2 a 3 dias a partir de 15 de junho para defender o ingresso irrestrito de ajuda humanitária a Gaza, onde o Estado de Israel utiliza a fome e a falta de cuidados médicos como instrumentos de genocídio.
No entanto, na chegada ao aeroporto do Cairo, cerca de 200 manifestantes foram deportados arbitrariamente de imediato.
No dia 13, os manifestantes foram impedidos de seguir rumo a Gaza na rodovia que liga o Cairo à cidade de Ismailiya. Todos os passaportes foram retidos e sua devolução condicionada ao retorno ao Cairo. Houve protestos e, ao final, 15 manifestantes foram presos e deportados.
No dia seguinte, a coordenação da Marcha se reuniu e, sob pressão da repressão do regime egípcio que continuava, não decidiu sobre os próximos passos, já que retomar a ida a Gaza era impossível sem autorização estatal.
As propostas discutidas nos diversos grupos giravam em torno a realizar manifestações no Cairo, e/ou concentrar esforços para libertar os 15 manifestantes presos e localizar integrantes da Marcha com paradeiro desconhecido.
Ao fim e ao cabo, a coordenação da Marcha priorizou a integridade física dos integrantes da Marcha e não convocou nenhuma nova manifestação. Criticando a repressão do regime, a coordenação pediu a todos que retornassem a seus países para retomar ações de solidariedade com a Palestina.
Comboio barrado
O comboio da resiliência – Sumudconvoy, em árabe – partiu de Tunis, na Tunísia, no dia 9 de junho com 12 ônibus e mais de cem carros trazendo ativistas do Marrocos, Mauritânia, Argélia, Tunísia e Líbia para ir de Tunis até Gaza, se unindo à Marcha Global.
Por onde passaram, pode-se ver a solidariedade popular árabe à Palestina.
No entanto, o comboio foi barrado e obrigado a regressar pelas forças do general conservador Khalifa Haftar na cidade de Sirte, na Líbia, que ainda prendeu cerca de 25 integrantes.
Esse general é ligado ao imperialismo russo, e apoiado pelos regimes do Egito e dos Emirados Árabes.
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Situação no Egito
A mídia egípcia se posicionou contrária à Marcha pois, em sua visão, esses movimentos podem colocar a perder as boas relações entre o Egito e os Estados Unidos.
No entanto, os integrantes da Marcha notaram muitos sinais da simpatia popular à Palestina e à própria Marcha, expressos em conversas, bandeirinhas da Palestina, murais, entre outros.
O regime egípcio também ficou irritado com a repercussão negativa sobre a repressão no dia 13 na mídia internacional.
De fato, todos os integrantes da Marcha constataram a cumplicidade do presidente egípcio al-Sissi com o genocídio de palestinos em curso; e dos seus próprios governantes que se limitam a gestos diplomáticos que dão mais tempo para Israel seguir com o genocídio.
Solidariedade internacional
Desde maio, a solidariedade internacional à Palestina se ampliou qualitativamente. Os atos em todo o Brasil, com destaque para os mais de 30 mil participantes em São Paulo, são prova disso.
A flotilha da liberdade, a Marcha Global a Gaza, e o comboio Sumudconvoy demonstraram que Gaza segue sitiada por terra, mar e ar; e que é necessário ampliar a solidariedade para impor o ingresso irrestrito de ajuda humanitária em Gaza, e cessar todas as agressões israelenses sejam elas em Gaza, na Cisjordânia, na Palestina de 48, no Líbano, na Síria, no Iêmen, ou no Irã.
PSTU na Marcha
Para o PSTU, ampliar as vozes palestinas e trazer a classe trabalhadora para a solidariedade são passos essenciais para obrigar o governo Lula a romper todas as relações com o Estado de Israel, isolando-o e paralisando sua máquina de guerra, que são medidas decisivas para fortalecer a luta pela libertação da Palestina, do rio ao mar, a única solução verdadeira e justa para o povo palestino e para a classe trabalhadora em todo o mundo.
* Fábio Bosco e Herbert Claros, militantes do PSTU e da LIT-QI, participaram da Marcha como parte da delegação da CSP-Conlutas
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