Em entrevista concedida nesta quarta-feira (18) ao programa Show da Manhã, do canal Fio Diário no YouTube, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, tratou de temas centrais da política nacional e internacional: as acusações de antissemitismo dirigidas ao partido, o apoio à Resistência Palestina, a posição sobre a perseguição judicial promovida pelo STF e a crise da esquerda brasileira.
Acusações de antissemitismo: “somos marxistas”
Logo no início da entrevista, Pimenta foi confrontado com a recorrente acusação de antissemitismo, motivada pelo apoio declarado do PCO à luta armada palestina contra a ocupação sionista. Ele respondeu de forma categórica:
“A imputação de antissemitismo contra nós, contra mim, é absurda porque nós somos marxistas. Mais especificamente, nós somos trotskistas. Marx era de origem judaica e Trótski também.”
Pimenta deixou claro que a crítica do PCO é ao sionismo enquanto política colonialista, e não aos judeus. “Nós não somos contra os judeus”, disse, “mas contra o sionismo, que é um movimento político”. Ele explicou que apoiar o Hamas e o Hesbolá não significa defender o extermínio dos judeus, como afirma a propaganda sionista.
“Nós apoiamos o Hamas porque o Hamas defende a constituição do Estado nacional palestino e a independência da Palestina. Isso não implica na destruição dos judeus nem na impossibilidade de convivência.”
Diante da tentativa de criminalizar a Resistência Palestina, Pimenta denunciou as falsas acusações contra o Hamas:
“Essa ideia de que o Hamas teria feito atrocidades contra os civis israelenses é uma mentira.”
Ele aproveitou para divulgar o livro publicado pelo partido, O Hamas conta o seu lado da história, que segundo ele “expõe os pontos de vista políticos do Hamas, que são falsificados pela imprensa”.
STF: “uma aberração, um partido da Globo e dos banqueiros”
Um dos pontos mais abordados foi a posição do PCO diante da atuação do Supremo Tribunal Federal. O entrevistador estranhou que um partido classificado como “extrema esquerda” critique o STF mesmo quando este atua contra Jair Bolsonaro.
Pimenta, no entanto, reafirmou a posição de princípio do partido:
“A defesa dos direitos democráticos é inegociável. O abuso judiciário — e eu vou dizer que abuso judiciário é quase um eufemismo diante do que está acontecendo no Brasil hoje — é uma das piores formas de ditadura.”
Pimenta disse que o STF ultrapassou os limites de sua função institucional e assumiu um papel político:
“O STF usurpou os poderes do Congresso Nacional. Vivemos num regime de exceção, um regime de ilegalidade.”
A crítica não ficou apenas na forma. O presidente do PCO foi além, afirmando que a própria existência da Corte é incompatível com a democracia:
“O STF não deveria existir. É uma aberração. Na realidade, é um partido político. Age politicamente, o que é totalmente incompatível com a sua função.”
Ele ainda caracterizou o tribunal como um instrumento da burguesia:
“É o partido do grande capital nacional e estrangeiro, é o partido da Globo, é o partido dos banqueiros.”
Quando perguntado sobre a atuação do STF contra Bolsonaro, Pimenta não hesitou:
“Não importa se é o Bolsonaro que está sendo perseguido. Somos contra a perseguição judicial. Nós somos coerentes: defendemos Lula, defendemos o PT quando estavam sendo perseguidos também.”
A degeneração da esquerda: “o identitarismo não é uma política popular”
Outro tema da entrevista foi a guinada da esquerda institucional, que teria abandonado as reivindicações populares em nome de uma política de adaptação ao regime. O entrevistador, professor André Marcilha, observou que a esquerda que defendia o nacionalismo e os direitos do povo teria se transformado numa “elite fetichista identitária”.
Pimenta concordou com a análise e explicou o processo:
“A esquerda foi integrada ao regime político depois da ditadura militar. A democracia, esse tipo de democracia logicamente, é um regime muito mais de corrupção política do que de satisfação das necessidades populares.”
Para ele, a principal expressão dessa integração é o identitarismo, que ele descreveu como:
“O sintoma mais maligno disso. O identitarismo não é uma política popular. Ele é uma política elitista.”
Ao contrário da esquerda domesticada, Pimenta afirmou que o PCO se mantém ligado à luta concreta da classe trabalhadora:
“Estamos ligados aos sindicatos, aos movimentos populares, aos movimentos sem terra.”
E completou, diferenciando esses movimentos das igrejas:
“As igrejas não são organizações reivindicativas.”
Liberdade de expressão e guerra na Ucrânia
A entrevista também tratou da defesa da liberdade de expressão — bandeira permanente do PCO — e da posição do partido sobre a guerra na Ucrânia. Pimenta reafirmou que o partido defende a liberdade irrestrita de expressão e que não cabe ao Estado punir opiniões:
“Nós somos a favor de que as pessoas falem o que quiserem. Se você não gosta, você critica. Mas não chame a polícia. Não chame o Judiciário. Opinião não é crime. Essa é uma palavra de ordem do PCO.”
Sobre a guerra, foi direto:
“Nós estamos com a Rússia desde o primeiro dia da operação militar russa na Ucrânia. A Rússia está se defendendo da agressão do imperialismo.”
Ele rejeitou as críticas que acusam o PCO de apoiar países que restringem liberdades civis:
“A tentativa de destruir o país que o imperialismo está buscando é infinitamente mais grave do que qualquer debate sobre liberdade de expressão.”
Pimenta utilizou o exemplo histórico da Alemanha nazista para reforçar sua posição anti-imperialista:
“O povo alemão é que tinha que acabar com a ditadura nazista, não a Inglaterra e os Estados Unidos.”