A ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, discursou para 500 mil pessoas reunidas na Praça de Maio, nesta quarta-feira (18), após confirmação da prisão domiciliar. 

“Hoje é a hora de mostrar que defenderemos a democracia com as mesmas ferramentas com que a construímos. Sem violência, mas com coragem, sem medo, mas com absoluta clareza sobre o momento histórico que todos os argentinos estão atravessando. Com amor, faremos isso com muito amor, como sempre, com profundo amor por esta pátria que tantas vezes tentaram colocar de joelhos e tantas vezes soube se reerguer”, enfatizou a ex-presidente, em mensagem gravada.

“Não sei o que o futuro próximo me reserva; não tenho bola de cristal. Mas sei de uma coisa. Já passei por quase tudo nesta vida”, até mesmo “uma tentativa de assassinato”, lembrou Cristina. “Queridos argentinos: voltaremos, e voltaremos também com mais sabedoria, com mais unidade, com mais força.”

“E de onde eu estiver, de qualquer trincheira, continuarei fazendo tudo o que estiver ao meu alcance para estar ao seu lado, como você sempre esteve ao meu lado. Mas faremos isso, porque temos algo que eles nunca terão nem poderão comprar, não importa quanto dinheiro tenham: temos pessoas, temos memória, temos história e temos uma pátria. Nós voltaremos. As pessoas sempre voltam”, concluiu.

Kirchner foi condenada a seis anos de prisão por corrupção, por favorecer Lázaro Báez, dono de uma empreiteira e amigo do casal Kirchner em 51 licitações para obras públicas, muitas delas superfaturadas e sequer concluídas, de acordo com a denúncia do Ministério Público.

O direito à prisão domiciliar foi concedido, entre outros motivos, porque a ex-presidente tem 72 anos, dois a mais que o necessário para garantir tal recurso. 

Após a conclusão da mensagem, Cristina conversou com os manifestantes à distância. “Temos que ser inteligentes o suficiente para nos comunicar e ser próximos. Vamos usar a tecnologia por enquanto! Um grande abraço para aquela praça lotada que me lembra a praça de 9 de dezembro de 2015”, disse ela.

“Juntem-se cotovelo a cotovelo, força a força, braço a braço, porque temos razão, o nosso direito e o direito do povo, que se recusa a ser devastado, e também uma pátria que se recusa a ser colônia. Como sempre, com firmeza e trabalho duro, sempre avançando”, concluiu.

A ex-presidente criticou ainda a atual gestão de Javier Milei, que está se desintegrando. “E não apenas por ser injusto e desigual, mas fundamentalmente por ser insustentável em termos econômicos. Já vimos isso com Martínez de Hoz em 76 e com Cavallo nos anos 90”, lembrou.

“E o pior é que os verdadeiros poderes econômicos sabem que esse modelo não tem futuro; sabem que está em colapso. E é por isso que estou presa. Mas há algo que todos deveriam entender, até eles, os que detêm o poder econômico: podem me prender, mas não conseguirão prender todo o povo argentino. Não somos nós que estamos com medo, são eles”, acrescentou.

E perguntou: “Sabem por que não me deixam competir? Porque sabem que estão perdendo. Por isso é preciso se organizar para esclarecer o verdadeiro problema do nosso país, que nada mais é do que um modelo econômico em que uns poucos enriquecem e os demais ficam sem nada. E isso se sustenta em um arcabouço judicial que, ao mesmo tempo em que mantém monstruosidades como o Decreto 70, que alterou diretamente a Constituição, também me prende.”

Terminadas as manifestações de Kirchner, os manifestantes deixaram a Praça de Maio em direção ao departamento de Constituição, onde ela cumpre prisão domiciliar, localizado na Rua San José, a fim de expressar seu apoio à ex-presidente.

“Hoje, graças à nossa companheira Cristina, podemos dizer mais uma vez que estamos todos juntos, que temos uma voz de esperança para seguir em frente, sem ódio, sem ressentimento, mas com justiça”, expressou um manifestante que acabava de chegar da Praça de Maio. “A história do peronismo é o que nos salvará”, acrescentou, emocionado.

Entenda o caso

Cristina Kirchner foi condenada no último dia 10, quando a Suprema Corte da Argentina rejeitou o recurso da ex-presidente. 

Após a condenação, Cristina afirmou que é alvo de perseguição política, uma vez que os juízes apenas confirmaram uma sentença que já estava escrita. 

“Esta Argentina em que vivemos hoje nunca deixa de nos surpreender”, afirmou. “Não se confundam. [Os juízes] são três fantoches que respondem a líderes naturais muito acima deles”, disse.

*Com informações da Página 12.

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Last Update: 18/06/2025