O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL) estavam à frente da “Abin Paralela”, definindo alvos e se beneficiando das operações de espionagem, aponta o relatório final da Polícia Federal. O documento chegou ao Supremo Tribunal Federal na terça-feira 17.

De acordo com a corporação, Bolsonaro e Carlos integravam o “núcleo estratégico da organização criminosa”, responsável por definir diretrizes, escolher alvos (como adversários políticos, ministros e até ex-aliados) e colher os frutos políticos da arapongagem. Os objetivos, ressaltou a PF, eram a manutenção do poder e o ataque sistemático a opositores e instituições democráticas.

No documento, os investigadores afirmam que o ex-presidente e o vereador estabeleceram as “diretrizes estratégicas” do esquema.

Ao detalhar a participação de Carlos, a corporação diz que ele “foi beneficiário direto de informações coletadas por essa estrutura, incluindo dados sobre investigações em curso que pudessem atingir o núcleo político ou familiar”. Já Bolsonaro era o “principal destinatário do produto das ações clandestinas e da instrumentalização da Abin”.

O relatório da PF destaca que Carlos “figura no cerne das ações delituosas da ORCRIM [organização criminosa] e, conforme corroborado por testemunhas, foi o idealizador da ‘inteligência paralela’ formada por ‘um delegado e três agentes’, por não confiar nas estruturas oficiais”.

“Este núcleo é integrado por sujeitos que eram os principais e responsáveis pelas ações realizadas, posto que figuravam como os beneficiários diretos das ilicitudes praticadas“, escreveu o delegado do caso. “As ações clandestinas, portanto, tinham seus produtos delituosos destinados ao interesse deste núcleo, com ataques direcionados à adversários e ao sistema eleitoral dentre outros.”

Anotações obtidas pela PF mostram também que Bolsonaro era informado diretamente sobre os resultados das ações de inteligência paralela. O relatório menciona uma nota de Alexandre Ramagem – então diretor da Abin e atualmente deputado federal – com o título “PR Presidente”, na qual eram relatadas diligências e resultados de interesse do núcleo político.

Apesar de ser apontado como figura central no esquema, Bolsonaro não foi incluído na lista de indiciados porque já responde pela mesma acusação na ação do golpe. Para a PF, cabe à Procuradoria-Geral da República dizer se o ex-presidente pode ser enquadrado novamente nos crimes de organização criminosa e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.

Carlos e mais 34 pessoas foram indiciadas pela PF, entre elas o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa. Após as conclusões virem à tona, o vereador se pronunciou. Em um post no X, ele atribuiu o indiciamento da “PF do Lula” a uma ação ligada à eleição de 2026.

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Last Update: 18/06/2025