
O recente comentário do governador bolsonarista de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), sugerindo em tom de brincadeira que “o Sul é nosso país” caso “lá para cima” não funcione, trouxe à tona novamente o tema do separatismo sulista. A fala foi direcionada aos governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), durante evento em Curitiba (PR).
A alusão de Mello remete ao movimento “O Sul é meu país”, fundado em 1992, que defende a emancipação dos três estados do Sul. Embora tenha iniciado apenas como proposta teórica de autonomia, o grupo ganhou visibilidade e persiste até hoje no debate público.
O movimento alega que o Sul contribui mais em impostos ao governo federal do que recebe de volta em serviços e investimentos. Esta narrativa de “ser prejudicado pelo pacto federativo” é um dos pilares do discurso separatista, embora não seja o único.
Mas o pesquisador Gabriel Pancera Aver, da UEL, aponta que o separatismo sulista se baseia sobretudo em uma identidade regional. “É um movimento que vai basear a separação muito mais no sentimento de ‘somos sulistas’”, segundo ele.
Essa identidade, no entanto, é contraditória: por um lado, exalta tanto a herança indígena guarani quanto a europeia; por outro, às vezes resvala em xiolofobia e na descrição de outros brasileiros como “invasores”.

Oposto a reivindicação identitária, Aver ressalta que, na prática, o movimento carece de um plano viável. “Há um vazio de uma proposta prática da separação”, afirmou à BBC, contrastando com casos como o da Catalunha.
O pesquisador também destaca eventos históricos que inspiram esse sentimento, como a Revolução Farroupilha e a Guerra do Contestado, movimentos que confrontaram o governo central no século 19 e início do século 20.
A iniciativa Plebisul, consulta informal realizada em 2016 e 2017, contou com cerca de 325 mil votos afirmativos (cerca de 2% do eleitorado regional), sinalizando simpatia, embora não suficiente para transformar o movimento em prioridade nacional.
O atual presidente do movimento, Ivan Feloniuk, afirmou à BBC que o grupo planeja uma PEC que proponha um federalismo “autêntico”, com a União se restringindo a política externa e defesa, e os estados assumindo controle total das leis locais.
Se aprovada, essa proposta mudaria a Constituição, que hoje estabelece que a federação brasileira é “indissolúvel”. Especialistas apontam a inviabilidade jurídica desse caminho, pois a carta magna não permite que estados se separem.