Única mulher na Câmara Municipal, a vereadora Elisane Rodrigues dos Santos (PT/RS) foi assassinada nesta terça-feira (17) com mais de 10 facadas. Partido dos Trabalhadores denúncia aumento da violência de gênero

A brutalidade do assassinato da vereadora Elisane Rodrigues dos Santos (PT), ocorrido nesta terça-feira (17), em Formigueiro, no Rio Grande do Sul (RS), gerou uma onda de comoção nacional e revolta entre lideranças políticas, movimentos sociais e defensores dos direitos das mulheres. Aos 49 anos, a parlamentar estava em seu primeiro mandato como a única mulher na Câmara Municipal. Seu corpo foi encontrado com mais de 10 perfurações de faca, especialmente no pescoço, ao lado do próprio carro, em uma estrada rural do município.

Nada foi levado do local do crime. O celular, dinheiro, cartões e bolsa da vereadora estavam intactos. A hipótese de feminicídio é a mais forte até o momento, segundo investigação preliminar, mas a motivação política ainda não está descartada pela Polícia Civil.

O presidente nacional do PT, senador Humberto Costa (PE), lamentou a morte da companheira e repudiou o ato em suas redes sociais.

“Quero externar aqui minha dor e minha indignação pela morte violenta de um grande quadro político do PT, a vereadora Elisane Rodrigues dos Santos. Foi assassinada a facadas e, ao que tudo indica, trata-se de feminicídio, em que pese não estar descartada motivação política. É urgente uma investigação rigorosa em mais um crime de ódio contra mulheres. Não vamos sossegar até que esse ato bárbaro esteja esclarecido.”

secretária nacional de mulheres do PT, Anne Moura, também se manifestou. “Recebemos com extrema revolta a notícia do feminicídio da companheira Elisane Rodrigues dos Santos (PT-RS), única vereadora da Câmara Municipal de Formigueiro (RS). Ainda não sabemos a motivação desse assassinato, mas esperamos que as autoridades consigam identificar os autores e explicar a motivação deste terrível crime. Não podemos deixar de nos preocupar com o fato de uma companheira nossa ter sido morta. Sempre que uma mulher eleita sofre violência política de gênero ou é vítima de um crime, a democracia fica mais fragilizada. Nós, da SNMPT, expressamos nossos sentimentos à família da Elisane.”

PT do RS: “Sua morte não pode ser naturalizada”

O diretório estadual do PT Mulheres no Rio Grande do Sul também se manifestou em nota pública. O texto destaca o papel político e social desempenhado pela vereadora, e cobra justiça. A Câmara Municipal decretou luto oficial de três dias.

“Elisane foi uma voz firme e comprometida com a defesa dos direitos sociais, da causa Quilombola, da saúde pública, da justiça social e do diálogo. Sua morte não pode ser naturalizada. Seguiremos honrando sua memória com mais luta, mais organização e mais coragem.”

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Uma escalada de violência política contra mulheres do PT

O assassinato de Elisane Santos ocorre em um momento em que a violência política de gênero ganha contornos cada vez mais alarmantes, especialmente contra mulheres do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras (PT). Casos recentes demonstram um padrão de ataques que vai de ameaças diretas até retaliações institucionais e discursos de ódio.

Em maio, a deputada estadual Ana Júlia (PT-PR) foi alvo de ataques misóginos do deputado Ricardo Arruda (PL-PR), em plena Assembleia Legislativa. Ele insinuou que a parlamentar seria incapaz e que seus projetos são “inúteis”.

Vale destacar que esta não é a primeira vez que Arruda ofende uma mulher do PT. Em março, ele foi condenado a pagar R$ 7 mil de indenização por danos morais  à ministra da Secretaria de Relações Institucionais do governo, Gleisi Hoffmann, e ao PT, além de se retratar publicamente por ter se referido a ela como “a tal da amante”. Como a decisão foi tomada na primeira instância, ele pode recorrer.

Também em março, a vereadora Vanessa da Rosa (PT-SC) denunciou um parlamentar do PL por conduta machista e quebra de decoro. Já em Natal (RN), a vereadora Samanda Alves (PT-RN) sofreu retaliação política durante sessão por defender a educação pública.

“Não se trata apenas de divergência política, mas de uma cultura que ainda resiste à diversidade de vozes nos espaços de poder”, afirmou Ana Júlia, destacando que mulheres de esquerda e do PT são alvos duplos: pelo gênero e pela ideologia.

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De ameaças à cassação

Desde 2014, quando o então deputado Jair Bolsonaro ameaçou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) de estupro no plenário da Câmara, a escalada de violência contra parlamentares petistas se intensificou. Casos como os das deputadas federais Érika Kokay (PT-DF), Juliana Cardoso (PT-SP), Beatriz Cerqueira (PT-MG), e Carol Dartora (PT-PR) expõem como a violência política de gênero se tornou prática sistemática — muitas vezes legitimada ou ignorada por instituições.

ministra Marina Silva também foi recentemente atacada por um senador bolsonarista no Congresso Nacional. A tentativa de humilhá-la, sob pretexto de crítica política, foi classificada como “crime e incitação à violência” pela Bancada Feminina da Câmara dos Deputados.

“Não é apenas contra uma ministra, é contra todas nós. Não seremos silenciadas”, declarou a bancada em nota.

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Violência política de gênero é crime

Lei nº 14.192/2021 tipifica e criminaliza a violência política de gênero no Brasil. A norma visa proteger mulheres no exercício de mandatos ou funções públicas, mas a impunidade, a normalização e a conivência institucional ainda tornam frágeis os mecanismos de proteção.

“Precisamos construir um ambiente político onde todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas, independentemente de gênero, idade ou ideologia”, alerta a deputada Carol Dartora.

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Da Redação da Agência PT

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Last Update: 18/06/2025