Anis Abdullah Sayigh nasceu em 3 de novembro de 1931, na cidade palestina de Tiberíades, às margens do Lago da Galileia. Era filho de um pastor protestante sírio que havia se estabelecido na Palestina e de Afifa al-Batruni.

Teve seis irmãos, entre os quais destacam-se figuras como Yusuf Sayigh, importante economista palestino, e Fayiz Sayigh, também militante da causa nacional. Sua irmã, Mary Sayigh, também se notabilizaria como intelectual. Desde cedo, Anis viveu as contradições de uma Palestina ocupada e em luta, que moldaram sua trajetória como pesquisador, organizador e militante da memória e da história do povo palestino.

Iniciou sua educação básica em Tiberíades, prosseguindo os estudos em Jerusalém, no Colégio do Bispo Gobat (Zion College), até 1947, quando a escola foi fechada diante do agravamento da ofensiva sionista. Refugiou-se então em Saida, no Líbano, onde concluiu o ensino médio no Gerard Institute. A Nakba o atingiria diretamente: em abril de 1948, sua família foi forçada a fugir para o Líbano diante da invasão e ocupação das cidades palestinas pelas forças sionistas.

Em outubro de 1949, ingressou na Universidade Americana de Beirute, onde se formou em ciência política em 1953. Ainda como estudante, começou a publicar artigos sobre temas históricos em jornais como Al-Hayat, adotando uma tática ousada: deixava os textos anonimamente na mesa do editor Kamel Muruwwa, temendo ser rejeitado por escrever sobre temas considerados muito complexos para sua idade. Ao contrário do que esperava, Muruwwa apreciava seus textos e até acrescentava ironicamente o título de “Doutor” ao seu nome.

Embora influenciado nos primeiros anos pela ideologia do Partido Nacional Social Sírio (PPS), Sayigh não chegou a filiar-se à organização. A partir da segunda metade da década de 1950, aproximou-se do nacionalismo árabe, ao qual se manteria fiel durante toda sua trajetória.

Após se formar, assinou contratos com os jornais Al-Nahar e Al-Usbu‘ al-Arabi, publicando também, sem remuneração, em diversas outras revistas e periódicos. Em 1959, mudou-se para a Inglaterra e ingressou na Universidade de Cambridge, onde concluiu, em 1964, seu doutorado em Estudos do Oriente Médio e passou a lecionar na Faculdade de Estudos Orientais.

Retornou a Beirute em 1964 e foi nomeado editor do dicionário bilíngue inglês–árabe da editora norte-americana Franklin. Abandonou o cargo em 1966 ao recusar-se a assinar um compromisso de não se envolver em atividades políticas ou culturais ligadas a temas “controversos”.

Foi então que iniciou uma das etapas mais significativas de sua vida. A convite de Ahmad al-Shuqairi, presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), assumiu a direção do Centro de Pesquisas da OLP em Beirute, substituindo seu irmão Fayiz.

Sob sua liderança, o centro se transformou em uma das mais importantes instituições de produção e sistematização de conhecimento sobre a luta palestina. Em dez anos, publicou mais de trezentos volumes, muitos deles em vários idiomas e em múltiplos volumes. Lançou também a revista mensal Shu’un Filastiniyya e o boletim diário Israel Radio Monitor, além de promover debates, conferências e formar quadros intelectuais em toda a região.

Durante o período em que esteve à frente do Centro, Sayigh buscou garantir sua independência científica e acadêmica, o que o levou a se chocar com lideranças da própria OLP, inclusive com Yasser Arafat. Sua insistência na autonomia intelectual refletia a convicção de que a causa palestina precisava ser munida de conhecimento histórico, político e cultural rigoroso, sistemático e acessível.

Essa atuação lhe rendeu não apenas prestígio, mas também a atenção dos inimigos do povo palestino. Em 19 de julho de 1972, foi alvo de uma carta-bomba enviada pelo serviço secreto sionista Mossad.

O artefato explodiu em suas mãos, causando ferimentos graves no rosto, ombro e mãos. Perdeu parte da visão e audição, e passou a sofrer de zumbido permanente. Ainda assim, sobreviveu e continuou atuando.

Entre 1968 e 1969, foi reitor do Instituto de Pesquisas Árabes, órgão vinculado à Liga Árabe no Cairo. Em 1977, foi nomeado chefe do Departamento da Palestina na mesma organização. No final da década de 1970, retornou a Beirute e editou as revistas Al-Mustaqbal al-‘Arabi e Qadaya ‘Arabiyya, além de lecionar na Universidade Libanesa.

Nos anos 1980, trabalhou na sede da Liga Árabe em Túnis como conselheiro do secretário-geral e chefe da seção de publicações. A partir de março de 1981, passou a dirigir a revista Shu’un Arabiyya.

Seu maior feito foi, sem dúvida, a criação da Enciclopédia da Palestina. A ideia, concebida desde 1966, concretizou-se com a publicação da primeira seção, de caráter geral, em 1984. A segunda seção, organizada por ele e publicada em 1990, incluía seis volumes dedicados a estudos geográficos, históricos, culturais e à luta nacional.

Em 1988, tornou-se presidente do conselho editorial da obra. Também colaborou com a Enciclopédia Árabe, publicada por um comitê vinculado à presidência da Síria, e com a versão abreviada da Enciclopédia da Palestina, lançada em 2012 na Jordânia.

Em 1993, com a saúde debilitada e a visão comprometida, decidiu se “aposentar sem ficar inativo”. Fundou o Encontro Cultural Palestino, fórum que dirigiu até o fim da vida, e passou a escrever uma coluna semanal no jornal Al-Safir, que depois se tornaria mensal. Continuou colaborando com o periódico até 1999.

Participou ativamente da política palestina como membro do Conselho Nacional Palestino e como vice-presidente e porta-voz do Congresso Nacional Palestino reunido em Damasco em 2008, que rejeitou os acordos de Annapolis promovidos pelos Estados Unidos.

Faleceu em Amã, em 25 de dezembro de 2009, e foi enterrado em Beirute. Deixou cerca de vinte publicações, dezenas de dissertações e teses orientadas e uma contribuição inestimável à construção do pensamento nacional palestino. Laico, metódico e de humor ácido, foi um exemplo de dedicação intelectual a serviço da libertação de seu povo.

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Last Update: 18/06/2025