No último sábado, dia 14 de junho, o portal Esquerda Online publicou o artigo O Domo de ferro falhou: Israel faz aposta de alto risco ao sabotar negociações e declarar guerra ao Irã. Apesar de expressar uma condenação ao ataque sionista no final, a peça reforça constantemente a propaganda imperialista sobre a suposta superioridade total do Estado de “Israel”, o que nem por acaso corresponde à realidade, mas é flagrante logo de início:

Na noite do dia 12 para o dia 13 de junho, o Estado sionista de Israel executou a operação ‘Leão Ascendente – Operation Rising Lion’. Uma campanha militar de alta complexidade contra a República Islâmica do Irã. Não foi um simples ataque aéreo, mas uma ofensiva que combinou ataque aéreo massivo com operações secretas de sabotagem em solo iraniano contra o sistema de defesa aérea do país. Decapitando a cúpula da liderança militar e científica do Irã, como também atingindo parte de sua infraestrutura nuclear e de mísseis.

De fato, tratou-se de um crime internacional. Um ataque sorrateiro a um país sem qualquer provocação. Mais que isso, as operações de sabotagem, ou a tentativa de realizá-las, levou à prisão, julgamento e execução de quadros do Mossad no Irã, que foram parados pela inteligência da República Islâmica.

A sucessão de adjetivos engrandecendo a operação sionista se mostra de fato sem qualquer justificativa, como uma peça de propaganda. O resultado também é aumentado, falando em “decapitação” de liderança militar, o que se repete ao longo do artigo, mas que, tendo em vista a resposta do Irã, se mostrou uma falsificação, o que já era previsível, dada a robustez do aparato militar iraniano. E segue:

A agressão sobre o Irã foi devastadora. Resultando na morte confirmada do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, do Comandante-em-Chefe do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), do chefe do programa de mísseis balísticos e de proeminentes cientistas nucleares. Entre os cientistas iranianos mais importantes que foram assassinados pelo estado de Israel, está o Dr. Mohammad Mehdi Tehranchi, físico renomado, defensor da soberania científica do Irã e figura central no avanço científico iraniano. Essa perda simultânea de capital humano estratégico infligiu um golpe sem precedentes na cadeia de comando do Irã.

De fato, pessoas importantes foram assassinadas, mas as conclusões são precipitadas e parecem se dar com desconhecimento histórico. O Irã é há décadas alvo do sionismo e do imperialismo. O assassinato de cientistas nucleares no Irã é algo que se repetiu diversas vezes na história.

Não à toa, a República Islâmica denunciou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) por colaborar com o sionismo, servindo como uma agência de espionagem contra o desenvolvimento da tecnologia nuclear pelo Irã, pondo os cientistas do país na mira de “Israel”. Novamente, isso mostra não uma grandiosidade do sionismo, mas sua dependência e vinculação ao aparato do imperialismo de conjunto. Não se trata de um resultado da engenhosidade ímpar, mas de mais um crime do imperialismo e do sionismo, que evidentemente teve apoio de inteligência do primeiro para realizar tal operação.

Num plano mais imediato o alvo foi a destruição do programa nuclear iraniano e a imposição de um acordo nuclear […]”

Aqui temos uma farsa. O programa nuclear iraniano é mero pretexto para a nova escalada militar. O regime israelense, de fato, está em decomposição.

Sem surpresa, o parlamento de “Israel” estava prestes a votar por uma dissolução do governo e novas eleições, reflexo do tamanho da crise interna. Assim, a nova frente de guerra foi uma tentativa do governo de buscar manter alguma coesão social graças ao conflito, uma tentativa desesperada de um aparato já sem mais opções.

O próprio artigo do Esquerda Online aponta que o ataque pôs fim a qualquer possibilidade de negociação, o que estava ocorrendo entre Irã e EUA. A exaltação do sionismo continua:

Analisando uma rápida retrospectiva, Israel tem conseguido avançar militarmente contra seus principais inimigos na região, destruiu toda a infraestrtura na faixa de gaza, enfraquecendo o Hamas e submetendo o povo palestino a um verdadeiro genocídio. Bombardeou e destruiu lideranças e bases importantes do Hezbollah no sul do Líbano e promoveu recentes operações militares na Síria para neutralizar qualquer capacidade militar de grupos aliados ao Irã. Os Houthis seguem resistindo corajosamente à ofensiva de Israel e dos EUA, mas essas forças proxy do Irã no Iêmen não têm demonstrado capacidade suficiente para inverter a correlação de forças militarmente.

Nova rodada de falsificações. O genocídio em Gaza, a destruição de infraestrutura, é um reflexo não do sucesso militar israelense, mas de seu contrário. Ao não conseguir enfrentar o Hamas, nem política e nem militarmente, o sionismo recorre ao massacre da população civil, enquanto sofre grandes perdas no campo de guerra, perdas essas que agudizam a crise do regime sionista. É algo que pudemos ver também no Vietnã. A destruição do país por bombardeios foi um reflexo da incapacidade das tropas norte-americanas de avançar.

Quanto ao Hesbolá, algo semelhante ocorreu. Apesar do assassinato de uma série de lideranças do Hesbolá e da série de bombardeios contra o Líbano, a intenção do sionismo era invadir e ocupar o sul do Líbano, algo em que tiveram uma dura derrota.

Foram as derrotas sionistas no sul do Líbano que levaram o regime a buscar um cessar-fogo com o partido revolucionário libanês. Para um país com o aparato de guerra do imperialismo a seu lado, trata-se de outra vergonhosa derrota militar.

Na Síria, de fato, o sionismo conseguiu uma vitória ao derrubar o governo de Bashar al-Assad. Contudo, a situação é instável, mesmo entre aqueles apoiados pelo sionismo na empreitada, o que levou “Israel” a buscar destruir a infraestrutura militar síria após a queda do governo, de modo que não possa se voltar contra os próprios sionistas.

Já quanto ao Ansar Alá no Iêmen, o país mais pobre do Oriente Médio, de fato não foram capazes de inverter a correlação de forças. Isso seria impossível, porém, dada a distância entre ambos os países, considerando-se ainda que entre eles está a Arábia Saudita, um capacho do imperialismo.

Ainda assim, o Ansar Alá conseguiu aterrorizar a população israelense com sucessivos e ininterruptos ataques, apesar de não dispor de grandes recursos. Mais que isso, fechou o Mar Vermelho para o trânsito de comércio com “Israel”, o que amputou um dos principais portos do país, o porto de Eilat, na talvez principal rota comercial do planeta. E o imperialismo não foi capaz de suspender esse bloqueio, o que é uma derrota enorme não apenas para o sionismo, mas para o conjunto do imperialismo.

Finalmente termina, em termos, a bajulação ao sionismo do Esquerda Online:

No início da noite desta sexta feira, 13 de junho, em menos de 24 horas que suas lideranças militares foram decapitadas, a República Islâmica do Irã iniciou uma resposta militar de grande envergadura lançando centenas de mísseis balísticos contra vários pontos de Israel. Corre por toda mídia internacional as imagens de mísseis iranianos furando as capacidades do sistema de defesa israelense conhecido ‘domo de ferro’, e atingindo violentamente a capital Tel Aviv.

Este fato mereceria muito mais atenção do que ganhou. As defesas antimísseis de “Israel” foram propagandeadas como as mais avançadas do mundo.

Apoio de todo o conjunto do imperialismo foi garantido. Apesar disso, os mísseis do Irã atravessam essas defesas como se nada fossem, e atingem todos os dias as sedes do governo israelense. Um último ponto:

Derrotar a aliança dos EUA-Israel dirigida por forças de extrema direita que estão colocando o futuro da humanidade do planeta em risco, é uma tarefa da nossa geração.

Temos aqui nova falsificação. Na prática , o governo de “Israel” não é apoiado tanto por Donald Trump, pelo trumpismo ou pela extrema direita, como pelo conjunto do imperialismo dito democrático. Inglaterra, França, Alemanha, com seus governos supostamente democráticos, e o partido da guerra nos EUA (também caracterizado como democrático), com quem se choca frequentemente com o mandatário norte-americano, são os financiadores e mantenedores do sionismo.

Nesse tempo, o avião de Netaniahu foi avistado na Grécia, o Ministério do Turismo de “Israel” proibiu a população de sair do país (fugir), e o governo proibiu a gravação e veiculação de imagens dos mísseis iranianos atingindo o enclave sionista, desativando ainda as câmeras de trânsito e similares.

A crise é gigantesca, e o Estado sionista se decompõe. A decapitação alardeada pelo Esquerda Online ocorre, mas ao contrário do que colocam. O que o mundo vê é a decapitação do Estado de “Israel” e do sionismo.

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Last Update: 18/06/2025