Carlos Bolsonaro e o presidente Jair Bolsonaro durante o debate da Band, em São Paulo. Foto: André Ribeiro/Futura press/Estadão conteúdo

O maior conglomerado de mídia de Santa Catarina, o Grupo ND, publicou hoje um editorial contundente em seu portal ND Mais, reagindo à tentativa do ex-presidente Jair Bolsonaro lançar seu filho Carlos como pré-candidato ao Senado em SC. Classificando o episódio como uma iniciativa que desrespeita a autonomia e a tradição política do Estado, o texto afirma que “Santa Catarina não é curral de ninguém”. Confira trechos:

Santa Catarina não é — e jamais será — o curral eleitoral de qualquer liderança política, por mais votos que tenha conquistado neste Estado. A tentativa do ex-presidente Jair Bolsonaro de impor o nome do seu filho Carlos Bolsonaro como pré-candidato ao Senado Federal por Santa Catarina é um desrespeito à inteligência e à maturidade política dos catarinenses.

Mais do que isso: revela um desprezo pela história, pela identidade e pela autonomia política de um povo que sempre soube se autogovernar com dignidade. É verdade que os catarinenses votaram expressivamente em Bolsonaro. Em 2018, no segundo turno, ele foi escolhido por 75,92% dos eleitores. Quatro anos depois, em 2022, ainda obteve 69,27% – a maior votação proporcional entre todos os Estados. (…)

Aqui Bolsonaro encontrou palanque, motociatas, aplausos, férias com jet ski e calorosa recepção. No entanto, os votos recebidos não foram retribuídos com investimentos federais ou políticas públicas à altura da confiança depositada. Durante seu governo, o ex-presidente raramente ouviu nossas lideranças, dialogou com setores produtivos ou se conectou à sociedade catarinense de forma efetiva. Ele ficou devendo. (…)

Carlos Bolsonaro (PL). Foto: Alan Santos

Em 2022, ao indicar o carioca Jorge Seif ao Senado catarinense, promoveu alguém sem raízes locais, que pouco se integrou à vida pública do Estado. Repetir agora a fórmula com Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro há 20 anos, é ainda mais grave. É confundir gratidão eleitoral com servidão política.

Santa Catarina não tem carência de lideranças. Pelo contrário. O Estado já foi representado por figuras de peso como Jorge Konder Bornhausen, ex-presidente de partido e ministro de Estado; Luiz Henrique da Silveira, que disputou a presidência do Senado e liderou o PMDB nacional; Esperidião Amin, atual senador e ex-candidato à Presidência da República; e Vilson Kleinübing, senador lembrado como um exemplo de ética na política. Esses nomes simbolizam uma tradição política forte, com representação legítima e influência nacional.

No atual PL, partido de Bolsonaro, destacam-se lideranças expressivas como Caroline De Toni, ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara; Júlia Zanatta, deputada combativa e atuante; e Kennedy Nunes, com profunda conexão com a base conservadora. Fora do partido, nomes como o próprio Amin seguem como referências. São quadros com enraizamento social, voto legítimo e reconhecimento popular. Qualquer um deles possui densidade política suficiente para disputar — com mérito próprio — uma vaga ao Senado.

Não se trata de rejeitar Bolsonaro ou suas bandeiras. Trata-se de exigir respeito. O respeito que um líder deve à terra que o acolheu como poucas. Respeito que se manifesta na escuta, no diálogo, na valorização de lideranças locais — e não na imposição de sobrenomes ao projeto político de um Estado. (…)

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Last Update: 17/06/2025