Após o recuo nas negociações para uma fusão com o Podemos, dirigentes do PSDB retomaram a busca por alianças e miram uma federação partidária com MDB e Republicanos. Também há conversas em andamento com o Solidariedade, mas uma junção ao partido de Paulinho da Força (SP) é considerada improvável nos bastidores.
O arranjo com o Podemos era uma possível tábua de salvação para os tucanos. Outrora ocupante da presidência de vários governos estaduais brasileiros, o partido amarga um acentuado processo de esvaziamento político e eleitoral. Deixaram a legenda recentemente os governadores Eduardo Leite (RS), Raquel Lyra (PE), além de outros prefeitos e congressistas que buscaram siglas como PSD e MDB.
Além disso, o partido acumula quedas sucessivas no número de filiados – mais de 15 mil em apenas um ano. Na Câmara, a bancada federal foi reduzida a somente 13 deputados, número insuficiente para garantir protagonismo, visibilidade ou tempo de TV expressivo.
A aliança com o Podemos fracassou devido a impasses sobre o comando da nova legenda. Renata Abreu exigia o controle total do partido por quatro anos, proposta considerada “inaceitável” por lideranças tucanas. O PSDB defendia um rodízio na presidência durante o período de transição, o que acabou levando à ruptura.
Apesar do fracasso na negociação, o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, avaliou o desfecho como positivo.
Em conversas reservadas ao longo da segunda-feira 16, disse ter percebido no Podemos uma tentativa de se “apoderar” do PSDB e passou a defender com ênfase o modelo de federação como única alternativa viável no cenário atual.
Nesse formato, os partidos atuam como uma única legenda por, no mínimo, quatro anos, compartilhando fundo eleitoral, tempo de TV e votos proporcionais — o que pode favorecer a eleição de bancadas mais robustas no Congresso e nas assembleias legislativas.
Para o dirigente tucano, a federação representa um verdadeiro “instinto de sobrevivência” da sigla no Congresso. Mas a possibilidade de união com MDB ou Republicanos gera preocupação: há receio de que o PSDB, em clara desvantagem numérica e estrutural, seja “engolido” pela nova correlação de forças, o que poderia acentuar a perda de identidade partidária e comprometer seu desempenho nas urnas em 2026 e 2028.
“Do ponto de vista eleitoral, [a federação] não me parece muito adequada dada a disparidade de posicionamentos políticos regionais”, avalia o ex-vereador Mário Covas Neto. “A experiência com o Cidadania não satisfez nenhum dos dois partidos, justamente por isso. É muito difícil para uma legenda menor sobrepor sua opinião a uma sigla maior numa federação.”
Mesmo assim, o PSDB acredita ter condições de lançar candidato à Presidência da República em 2026. Já de olho em 2025, o partido espera concluir a filiação de Ciro Gomes para disputar o governo do Ceará.