
O advogado Eduardo Kuntz, defensor do coronel Marcelo Câmara, entrou com pedido no STF (Supremo Tribunal Federal) apresentando provas — capturas de tela e uma selfie enviada no Instagram — que indicam conversas com o tenente‑coronel Mauro Cid por meio do perfil @gabrielar702 no Instagram. O documento contraria a versão oficial do delator, que negou o uso da conta na rede social.
O profissional alega que as mensagens enviadas por Cid sugerem que a delação foi orientada e não voluntária, desrespeitando os termos do acordo firmado com a Polícia Federal, que impõem sigilo, proíbem contato com investigados e o uso de redes sociais. No pedido, Kuntz afirma que a delação “não pode e nem deve prosperar” e pede a exclusão de todas as provas derivadas do acordo.
Outros réus, incluindo o ex‑presidente Bolsonaro e seu ex‑ministro Walter Braga Netto, protocolaram petições semelhantes. Eles alegam que Cid mentiu em juízo e descumpriu as cláusulas de sua colaboração, e que, se confirmados os indícios de “falta de voluntariedade”, a delação se tornaria “absolutamente desprovida de credibilidade”.
Os diálogos datados de janeiro de 2024 mostram Cid criticando a pressão da PF para enquadrar suas declarações, afirmando que “várias vezes eles queriam colocar palavras na minha boca” e que solicitou correções em anexos que envolviam suposta ligação com o golpe. Em resposta ao STF, o militar minimizou as críticas como “desabafos” pessoais.
Kuntz também diz que Cid foi quem iniciou o contato, enviando selfie para provar a autenticidade do perfil. Uma estratégia do advogado foi manter registros por escrito para se resguardar, deixando claro que foi buscado por Cid e não o contrário.

Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que, mesmo com a eventual anulação da delação, o inquérito não cairia por completo. A denúncia contra Bolsonaro e demais envolvidos se apoia em outros elementos além da colaboração premiada.
Mas, caso comprovada a mentira, Cid perde os benefícios acordados, o que traz consequências graves, já que ele pode cumprir até dois anos de pena — e enfrenta acusações que, isoladamente, somam mais de 40 anos de prisão.
Agora, caberá ao ministro Alexandre de Moraes decidir se manda a Meta entregar os registros da conta @gabrielar702 e se acolhe os pedidos de anulação. O resultado poderá modificar o andamento do processo no STF e os rumos da apuração do chamado “núcleo crucial” da trama golpista.
No documento enviado ao STF, Kuntz diz que respondeu às mensagens do perfil mesmo sem saber ao certo quem era o interlocutor e que imaginava ser uma proposta de trabalho. O advogado não informou Moraes previamente sobre as mensagens e só pediu a anulação da delação após a divulgação do material pela revista Veja.