Familiares do servente de pedreiro Matheus Lopes Silva Santos, de 21 anos, realizaram um protesto na última sexta-feira (13) no bairro Bom Retiro, em Santos (SP), durante visita do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) a uma obra habitacional. Eles denunciam que Matheus, baleado pela Polícia Militar (PM-SP) no último domingo (8) durante operação na favela Caminho São José, foi vítima de uma armação policial para incriminá-lo por crimes que não cometeu.
A operação, conduzida pelo 2º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), ocorreu por volta das 14h. Segundo moradores, policiais chegaram atirando indiscriminadamente enquanto crianças brincavam na rua. Matheus, que fazia reparos em um barraco de madeira, tentou fugir atravessando um canal de água para se proteger, mas foi atingido por um disparo na barriga.
Vídeos gravados por familiares mostram o jovem ferido no chão, com pedidos para que não fosse executado. O socorro chegou quase duas horas depois, e Matheus foi internado no Hospital Vicentino, em São Vicente, onde permanece sob custódia.
A PM-SP alega que foi recebida a tiros por cinco suspeitos, incluindo Matheus, e que ele tentou sacar uma arma após atravessar o canal. A família nega, afirmando que nenhuma arma foi vista na cena e que o armamento apresentado pela polícia só apareceu na delegacia. “Matheus sai de casa às 7h para trabalhar como ajudante de obra e volta às 17h. Depois, trabalha em um ferro-velho desde os 15 anos. Meu primo é trabalhador. Plantaram essa arma contra ele”, declarou Hortência Alves, prima de Matheus, ao sítio Ponte Jornalismo.
Matheus foi indiciado por tráfico de drogas, resistência e corrupção de menor, com prisão em flagrante convertida em preventiva pela Vara Regional das Garantias da 7ª Região Administrativa Judiciária, sem audiência de custódia. A Justiça estadual confirmou os crimes e informou que ele tem defensor constituído. Seus pais receberam autorização para visitá-lo na quarta-feira (11).
Moradores relatam operações frequentes da PM na favela, com disparos indiscriminados. “A polícia só chega atirando. Xingam a gente de vagabunda, de bandido. Se falamos para não atirar por causa das crianças, dizem ‘foda-se, se deixou na rua é porque quer’”, afirmou Hortência. Ela relatou ainda que sua casa tem marcas de tiros e que sua filha faz acompanhamento psicológico devido à violência policial na comunidade.