Carlos Bolsonaro e Caetano Veloso em show com a bandeira palestina. Fotomontagem: Reprodução/ X

Neste domingo (15), o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) publicou em sua rede social X que o cantor Caetano Veloso terá seu visto para os Estados Unidos suspenso após levantar a bandeira da Palestina durante shows no Rio Grande do Sul.

A publicação sugere que o ato de solidariedade à causa palestina representa apoio a práticas violentas atribuídas ao grupo extremista Hamas e associa à esquerda brasileira. Não há qualquer informação de quem o apoio à causa palestina é requisito para a perda de visto americano por qualquer cidadão estrangeiro.

O Hamas (Harakat Al Muqawama al Islamia) é uma organização de ideologia islâmica sunita, fundada em 1987 durante a Primeira Intifada.

O grupo prega a criação de um Estado palestino muçulmano independente, por meio da luta armada, em todo o território da Palestina histórica. Seu braço militar já protagonizou diversos ataques contra Israel e, embora tenha apoio popular em Gaza, não representa toda a população palestina.

Para sustentar sua narrativa, Carlos Bolsonaro também citou a execução de dois homens gays no Irã, ocorrida em fevereiro de 2022. Mehrdad Karimpour e Farid Mohammadi foram enforcados após seis anos no corredor da morte, sob acusação de “sexo forçado entre dois homens”, conforme noticiado pela Human Rights Activists News Agency.

A reportagem acima menciona Mehrdad Karimpour e Farid Mohammadi foram sentenciadosem 2022. Foto: Reprodução/Queer.ig

O Irã aplica a pena de morte para diversos crimes, incluindo homossexualidade, adultério, estupro e assassinato, com base em uma interpretação rígida da Sharia, a lei islâmica. No entanto, esse modelo jurídico não é padrão nos demais países do Oriente Médio, nem se aplica automaticamente às regiões sob influência ou presença do Hamas.

Carlos Bolsonaro tenta vincular a causa palestina aos abusos cometidos no Irã, com base no apoio financeiro que o país persa fornece ao Hamas. De fato, o Irã tem repassado recursos ao grupo, especialmente para suas estruturas militares e ações contra Israel, como os ataques ocorridos em outubro de 2022. Ainda assim, isso não justifica associar, sem distinção, artistas ou cidadãos palestinos a tais práticas extremistas.

Em outubro de 2021, Javaid Rehman, relator da ONU para os direitos humanos no Irã, alertou sobre o número crescente de execuções no país, classificando-as como “alarmantes”. Segundo a mesma agência que noticiou os enforcamentos, ao menos 299 pessoas foram executadas no Irã em 2021, muitas sem julgamentos transparentes.

A publicação do vereador distorce fatos, mistura contextos distintos e desinforma ao associar um ato simbólico de solidariedade à Palestina com crimes cometidos por regimes autoritários e a anuência da ideologia progressista.

Veja o post de Carlos Bolsonaro e outro internauta que faz a mesma associação:

 

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Last Update: 15/06/2025