Na última quinta-feira (12), a bancada do programa Nova Economia analisou o embate de alto impacto causado pela briga entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o magnata Elon Musk.
O que parece ser um choque de egos, na verdade, expõe fissuras profundas entre o setor privado de tecnologia e o poder público nos Estados Unidos — com consequências diretas para políticas públicas, orçamentos bilionários e até o equilíbrio democrático.
A crise entre Trump e Musk teria começado quando o bilionário, à frente de um programa do governo para corte de despesas públicas, foi demitido após divergências com o presidente. Musk, que prometia sanar o déficit fiscal americano, foi acusado de promover cortes drásticos em agências estratégicas, como a USAID, e demitir milhares de funcionários.
O resultado fiscal, porém, foi considerado pífio. Em contrapartida, Trump lançou um pacote fiscal polêmico que cortava gastos com saúde e alimentação para os mais pobres, ao mesmo tempo que beneficiava os mais ricos com isenções de impostos.
Segundo Leandro Ferreira, presidente da Rede PENSSAN, “é difícil distinguir o que é interesse público, delírio ou interesse privado nessa história”. “O que se sabe é que a Tesla valorizou-se em 190 milhões de dólares no dia seguinte a um possível aceno de paz entre os dois.”
Ferreira destacou ainda o risco de um “patrimonialismo à la Big Tech” nos Estados Unidos: um Estado cada vez mais capturado por interesses de grandes empresas, como a Tesla e a SpaceX. A tensão aumentou quando Trump ameaçou cortar contratos bilionários da Starlink e da empresa espacial de Musk.
O pano de fundo seria a disputa por subsídios federais, especialmente os destinados à infraestrutura de veículos elétricos — uma área vital para os negócios de Musk. A retirada desses incentivos, prevista no plano de Trump, pode ter sido o estopim para o afastamento do empresário do governo, embora o próprio Musk tenha dito que saiu por princípios.
A discussão não se limita à economia. Segundo João Furtado, economista e apresentador do Nova Economia, o episódio escancara a fragilidade dos Estados diante de gigantes tecnológicos. “Estamos diante de uma forma de poder despótico, que controla inclusive o fluxo da informação pública através de algoritmos”, disse.
Amauri Chamorro, consultor político, foi mais incisivo: “Musk vive de dinheiro público”. “Foram mais de 40 bilhões de dólares em contratos com o Estado americano. Mas, na hora do ajuste fiscal, o corte vai para a saúde e educação. No Brasil, o paralelo é imediato.”
O programa mergulhou também em uma reflexão sobre como as esquerdas estão perdendo espaço no debate público, não apenas nos EUA, mas em todo o Ocidente. Para Chamorro, a esquerda está prisioneira de análises teóricas intermináveis e debates internos, enquanto a direita vai direto ao ponto: comunicação eficaz, treinamento em redes sociais e presença estratégica nas plataformas.
“A esquerda organiza seminários para discutir o que Gramsci pensaria do TikTok. A direita, por sua vez, senta com executivos das Big Techs para saber como viralizar uma mensagem”, criticou Chamorro. Ele defende o retorno às ruas como ferramenta de mobilização política e denuncia o uso cada vez mais centralizado de recursos de comunicação dentro das campanhas de esquerda.
Segundo os debatedores, a guerra agora é cultural e simbólica, não mais militar. “Os EUA perderam várias guerras no campo militar, mas dominaram o planeta pela mente e pelo coração — pela cultura, pela internet, pelas redes sociais”, concluiu Ferreira.
O que vem pela frente
A tensão entre interesses públicos e privados, entre a comunicação digital e a política tradicional, e entre velhos líderes e novas realidades tecnológicas, aponta para uma crise mais profunda da democracia ocidental. O embate entre Musk e Trump é apenas a superfície visível de uma disputa maior: quem governa o mundo em tempos de Big Techs?
Nota da redação: Este texto, especificamente, foi desenvolvido parcialmente com auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial na transcrição e resumo das entrevistas. A equipe de jornalistas do Jornal GGN segue responsável pelas pautas, produção, apuração, entrevistas e revisão de conteúdo publicado, para garantir a curadoria, lisura e veracidade das informações.
Confira o programa na íntegra:
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