Junho é o Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, um período dedicado à celebração da comunidade, à visibilidade e à luta por direitos e nesta sexta-feira (13) o programa Café PT da TvPT entrevistou a vereadora Filipa Brunelli (PT-SP), primeira vereadora travesti eleita vereadora e reeleita em 2024.
Sua trajetória na política começou como gestora de políticas públicas LGBT nas duas administrações do prefeito Edinho Silva (PT) que só não avançaram mais devido aos neofascistas.
“Araraquara é um exemplo tanto no executivo quanto no legislativo do avançar de políticas de acolhimento, promoção e cidadania da população LGBTQIA+. Ambos conseguiram implementar a maioria das legislações. Infelizmente tivemos dificuldade com algumas por causa do fundamentalismo religioso”, relatou ela ao reconhecer o presidente Lula como o que mais garantiu os direitos LGBTs e ao denunciar os seis meses de desmonte que a gestão de extrema direita em Araraquara vem promovendo.
“Vemos a negação de direitos numa gestão de extrema direita e isso explicita o quanto ela não pensa na população periférica e nos trabalhadores. Tenho a missão de fiscalizar o poder executivo e garantir os direitos básicos”, asseverou, ao falar de conquistas como a Casa Abrigo LGBT, o Centro de Referência LGBT e o Ambulatório Trans LGBT que será inaugurado em breve.
Nas gestões do prefeito Edinho, Araraquara avançou também em legislações como a garantia do direito de famílias homoafetivas terem acesso a programas habitacionais, cotas para travestis e pessoas trans, políticas públicas de equidade em saúde, entre outras.
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“Eu falo com muito orgulho mesmo porque em pouco tempo a gente ocupou o Legislativo com muita gana, com muita vontade e tenta correr o máximo possível para fazer essa reparação histórica para com a nossa comunidade que sempre foi esquecida e que a gente tem muito pouco tempo para tentar fazer essas reparações”, assinalou.
Resistencia ao neofascismo
Filipa lembrou das agressões verbais que sofreu na segunda cerimônia de posse, algo que tem sido rotineiro nos mandatos de pessoas trans. “No meu primeiro mandato recebi ameaças de morte, precisei contratar escolta para me blindar, para poder legislar. Tudo isso é um reflexo da extrema direita, do neofascismo brasileiro que tenta cercear o direito político, que tenta cercear os debates, os ideais políticos da esquerda principalmente da esquerda quando a gente fala de corpos dissidentes”, salientou.
A Justiça deu ganho de causa a Filippa em ação contra 10 pessoas que a ameaçaram. “Duas elas cumprem regime semiaberto porque o crime de LGBTfobia e de transfobia é inafiançável. A gente avança em algumas questões mas infelizmente em outras a gente ainda porque a justiça sempre vai duvidar da palavra de corpos dissidentes”, lamentou.
Vitórias históricas
Sobre suas vitórias nas eleições, ela diz que foi um “demarcador histórico”. Junto com as eleições das “minhas outras irmãs travestis pelo Brasil afora foi a concretude do sonho nas nossas ancestrais travestis, onde muitas das nossas inclusive tombaram durante o percurso no passado recente e sonharam em ocupar o poder”.
E completa: “Fui eleita pelo Partido dos Trabalhadores, uma travesti de esquerda, mas eu não quero ser a última. Que além de fazer um trabalho próspero para a comunidade desejo que entendam as potencialidades de um corpo travesti, um corpo trans, um corpo LGBT, um corpo dissidente na política brasileira para que no futuro a gente consiga cada vez mais conquistar e ganhar mais e mais espaço de poder, com ideias dissidentes, com corpos dissidentes”, assinalou.
O exercício da política se revela diferente para pessoas trans. “É muito doloroso o que eu vou falar sobre as discrepâncias do direito de exercer a política. Ela é tão distante de corpos trans. Os corpos cisgêneros não tem que pensar na sua segurança enquanto os corpos trans muitas das vezes não conseguem plenitude do parlamento. Trazemos o discurso, as dores, os anseios e as vontades da onde viemos, porque eu vim na prostituição, vim da periferia então automaticamente eu vou trazer comigo todas essas negligências”, assinalou.
Educação, saúde e direitos humanos
Os debates em torno dos direitos têm, na visão de Filipa, o foco básico nos direitos humanos. “Quando a gente debate meio ambiente, direito à saúde, lazer, educação, participação popular e mobilidade urbana a gente fala de direitos humanos”, sintetizou.
Filipa reconhece a educação de qualidade como o pilar fundamental para a transformação de sociedade. “Uma educação que de fato acolha, emancipe e liberte, é essa a educação que eu acredito, que acolha todo tipo de diversidade LGBT, pessoas pretas, pessoas de axé, enfim, toda essa diversidade e pluralidade humana”, destacou.
A mandata de Filipa encaminhou, em parceria com a deputada estadual Tainara Faria (PT-SP), “uma mulher LGBT preta, a única mulher preta eleita pelo PT na Assembleia de São Paulo e que a gente vem fazendo um trabalho importantíssimo e significativo nas mudanças nos paradigmas do que esperam de corpos dissidentes”, emenda de R$ 33 mil reais para aquisição de computadores para escolas de Araraquara.
“Educação não é gasto, é investimento”, afirmou a vereadora, ao defender que é preciso pensar na perspectiva de futuro que esses corpos se emancipem e consigam garantir a empregabilidade e direito de cidadania. “Uma educação emancipadora e libertadora suficiente para que nenhuma pessoa mais seja utilizada como massa de manobra por projetos políticos que massacram a população periférica, que massacram a população pobre”, sentenciou.
Em relação à saúde, ela destaca o SUS como um dos melhores programas sociais do mundo, mas lamenta a falta de empatia dos gestores municipais com muitas negligências na aplicabilidade do sistema nos territórios.
Da Redação