O relatório da Polícia Federal que indica Jair Bolsonaro por três crimes no caso das joias sauditas menciona cinco vezes uma “tentativa de golpe de Estado”. Contudo, a conspiração para impedir a posse de Lula em 2022 é alvo de outra investigação, que pode, em breve, gerar mais um indiciamento contra o ex-presidente.
No documento enviado ao Supremo Tribunal Federal, a PF enfatiza que a apuração sobre as joias trata de uma possível organização criminosa que tentava obter diversas vantagens, políticas e patrimoniais.
Um dos eixos dessa atuação seria, justamente, uma tentativa de golpe e de abolição violenta do Estado. Na lista também estão ataques virtuais a opositores, a instituições (como o STF) e às vacinas da Covid-19, além do uso da estrutura do Estado para assegurar as benesses pretendidas.
Em outro trecho do relatório, a PF cita diretamente a investigação sobre a trama de 2022. “Após o segundo turno das eleições presidenciais, frustrada a tentativa de golpe de Estado em curso naquele momento (conforme evidenciado nos autos da pet. 12.100/DF), o ex-presidente Jair Bolsonaro decidiu sair do país com destino aos Estados Unidos.”
Diz a PF:
“Dentro de sua estratégia, o ex-presidente levou para o exterior quase a totalidade de seus recursos financeiros, que estavam disponíveis para imediata movimentação, transferindo 80% do montante depositado em contas bancários no Brasil para sua nova conta no Banco BB Américas sediada em Miami/FL. Além disso, determinou o envio, ao exterior, de bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras, para serem vendidos de forma escamoteada, longe do alcance das autoridades brasileiras”.
Ao vincular em três partes do relatório final a “tentativa de golpe de Estado” à descrição sobre a “estratégia” por trás da viagem e do envio das joias aos Estados Unidos, a Polícia Federal fornece indícios de que acredita haver uma conexão entre as investigações em curso. A se confirmar, trata-se de mais um péssimo sinal para o ex-presidente.
O inquérito a respeito da conspiração de 2022 está em vias de terminar, conforme demonstrou. Neste caso, a PF pode colar em Bolsonaro os crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Além disso, tende a lançar militares de alta patente no olho do furacão, mais ainda do que no escândalo da joias.