
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) consideraram o interrogatório do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “sem novidades” e “dentro do script”. Para os magistrados ouvidos pelo Globo, o ex-capitão seguiu um roteiro esperado, sem apresentar novos elementos, e procurou afastar as acusações contra ele.
A análise dos ministros se estende aos outros réus interrogados ao longo de segunda e terça-feira, em cerca de 15 horas de depoimentos. Nos bastidores do Supremo, a expectativa é de que, como os réus podem deixar de falar a verdade, não houvesse surpresas nos depoimentos, e os relatos se limitassem a negar os fatos que lhes são imputados.
Agora, com o encerramento dessa fase, os réus poderão se manifestar sobre novas diligências. O caso seguirá para a fase das alegações finais, antes do julgamento propriamente dito.
O depoimento de Bolsonaro
Em seu depoimento, Bolsonaro afirmou que nunca endossou uma minuta que sugeria um golpe de Estado e que não teria visto o documento, apenas “considerandos”. Ele negou ter discutido a prisão de autoridades e justificou sua ausência na posse do presidente Lula (PT) alegando que evitaria “a maior vaia da história do Brasil”.
Bolsonaro também reiterou suas críticas ao sistema eleitoral, alegando ter “dúvidas” sobre as urnas eletrônicas. Apesar disso, o ex-mandatário confessou logo na primeira resposta que nunca houve prova de fraudes nas eleições de 2022.
Não demorou 5 minutos.
Jair Bolsonaro confessou que não tinha provas de fraudes nas eleições, mas mesmo assim seguiu o discurso para tentar dar um golpe de Estado. pic.twitter.com/GcMOOqEM0I
— Abel Ferreira Comunista! (@AugustodeS62143) June 10, 2025
Bolsonaro foi ouvido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, como o sexto réu no processo que investiga o núcleo da tentativa de golpe.
O ex-presidente havia prometido “falar por horas” e exibir vídeos durante seu depoimento, mas Moraes negou o pedido de sua defesa para exibir novos materiais, alegando que o momento do interrogatório não era adequado para isso.
Em março, a Primeira Turma aceitou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) e tornou réus Bolsonaro e outros sete aliados, acusados de fazerem parte do núcleo crucial da trama golpista.
Durante o processo, foram ouvidas testemunhas, como os ex-comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior. Também depuseram o vice-presidente da gestão Bolsonaro, hoje senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
A expectativa no STF é de que o processo esteja pronto para julgamento no início do segundo semestre, com análise prevista para setembro ou outubro. A Primeira Turma, composta pelos ministros Flávio Dino, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia, decidirá sobre a condenação ou absolvição dos réus.