O líder do governo revolucionário de Burquina Faso, Moussa Traoré, anunciou no último sábado (6) que seu país e os governos revolucionários de Mali e Níger, formarão Aliança dos Estados do Sahel (AES), unidos em um Confederação dedicada a impulsionar uma “verdadeira independência, uma paz genuína e um desenvolvimento sustentável”, disse Traoré em seu perfil no X. O encontro ocorreu em Niamei (capital do Níger). Eis a publicação de Traoré na rede social:

“Ao lado dos meus pares, Suas Excelências o General TIANI e o Coronel GOITA, participo neste sábado, 6 de julho de 2024, em Niamey, da 1ª cúpula dos países membros da Aliança dos Estados do Sahel (AES). Essa cúpula marca um passo decisivo para o futuro do nosso espaço comum. Juntos, vamos consolidar as bases de nossa verdadeira independência, a garantia de uma paz genuína e de um desenvolvimento sustentável, por meio da criação da Confederação ‘Aliança dos Estados do Sahel’. A AES tem um enorme potencial natural que, se bem explorado, garantirá um futuro melhor para os povos do Níger, do Mali e de Burquina Faso.”

Com a formação da AES, um território superior a 2,78 milhões de km² (ligeiramente maior, por exemplo, do que a Argentina) e quase 73 milhões de habitantes se constitui na porção ocidental do continente, superando, por exemplo, a Argélia, o maior país africano, com 2,38 milhões km². Com isso, os países membros da AES concretizam o abandono à Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que controlada pelo imperialismo, chegou a cogitar uma ação militar contra os governos revolucionários das nações africanas. Líder do governo provisório do Níger, o general Abdourahmane Tiani anunciou que após a concretização do AES, o bloco “virou irrevogavelmente as costas” à CEDEAO.

“Vamos criar uma AES dos povos, em vez de uma CEDEAO cujas diretrizes e instruções são ditadas por potências que não pertencem à África”, disse Tchiani. “Os ocidentais consideram que nós pertencemos a eles e que nossa riqueza também pertence a eles. Eles acham que são os únicos que devem continuar a nos dizer o que é bom para nossos estados”, continuou o líder nigerino, concluindo, por fim, que “essa era acabou para sempre. Nossos recursos permanecerão para nós e para nossa população.”

Ao sítio do órgão catarense Al Jazeera, o ex-diretor de comunicações da CEDEAO Adama Gaye reconheceu que a medida anunciada pelos governos revolucionários “enfraqueceu” o bloco econômico controlado pelo imperialismo:

“Apesar de seu reconhecimento pelo nome real, a CEDEAO não tem tido um bom desempenho quando se trata de alcançar a integração regional, promover o comércio intra-africano na África Ocidental e também garantir a segurança”, continuou Gaye ao órgão árabe (“Niger, Mali and Burkina Faso military leaders sign new pact, rebuff ECOWAS”, 6/7/2024).

“Portanto, isso justifica o sentimento de muitos na África Ocidental – os cidadãos comuns e até mesmo os intelectuais – que estão fazendo perguntas sobre a posição da CEDEAO, se ela deve ser revisada, reinventada”, concluiu, ao que Al Jazeera acrescentou um pedido para “que o bloco se engaje na diplomacia para tentar superar a divisão.”

Dado o nível das ameaças enfrentadas pelos países-membros, a criação da AES prevê também o estabelecimento de uma força unificada, em resposta a uma eventual agressão da CEDEAO, que já ameaçou os governos revolucionários com respostas militares. Além disso, a Confederação anunciou planos de lançamento um banco de investimentos e um fundo de estabilização, dedicados a impulsionar o desenvolvimento dos países.

As políticas das juntas remodelaram a influência internacional na região central do Sahel, com os três estados promovendo laços mais estreitos de defesa, diplomáticos e comerciais com a Rússia, em detrimento da presença opressora do imperialismo, destacadamente a antiga potência colonial, a França, e os Estados Unidos. Juntos, os três países compartilham um Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas em uma sociedade) de US$52,99 bilhões, para um mercado de 72,89 milhões de trabalhadores.

Convulsionada desde 2020, a região do Sahel (porção central da África subsaariana) viu a emergência de uma série de golpes de Estado, sobretudo em meados de 2023. Em todos os países, as Forças Armadas lideraram movimentos nacionalistas, que derrubaram regimes controlados pelo imperialismo.

Com a crise da dominação imperialista se espalhando pelo mundo, o movimento dos governos revolucionários da AES deve ser acompanhado, devido forte tendência que apresenta a impulsionar uma onda ainda maior de derrotas na região para a ditadura mundial.

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Última Atualização: 08/07/2024