O campo de refugiados de Aida, localizado na Cisjordânia, foi criado em 1950, logo após a guerra árabe-israelense de 1948. Este conflito, que resultou na criação do Estado de Israel, forçou aproximadamente 700.000 palestinos a abandonarem suas terras, evento conhecido pelos palestinos como Nakba (Catástrofe). Muitos desses refugiados se estabeleceram em campos como Aida, esperando um dia retornar às suas casas. Inicialmente, o campo consistia em tendas fornecidas pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA). Com o tempo, essas tendas foram substituídas por estruturas de concreto, mas as condições de vida continuaram difíceis.

Atualmente, cerca de 5.500 refugiados vivem no campo de Aida, que ocupa uma área de apenas 0,71 km², nos arredores de Belém, uma cidade sagrada para o cristianismo. A superlotação é um problema grave, com famílias numerosas dividindo espaços pequenos e inadequados. A infraestrutura é precária, com problemas recorrentes de abastecimento de água, saneamento básico e eletricidade. A ausência de uma clínica médica no campo obriga os refugiados a se deslocarem até Beit Jala, a um quilómetro de distância, para receberem cuidados médicos.

Além disso, o campo de Aida está isolado de Jerusalém por duas grandes ocupações israelenses e pela barreira da Cisjordânia, o que exacerba o confinamento e insegurança entre os moradores. O desemprego é uma questão crítica, com taxas superiores a 40%, e a média de idade no campo é de apenas 23 anos, com mais de 60% da população sendo composta por crianças e jovens até 24 anos.

A proximidade do campo de Aida ao muro de separação israelense e às torres de vigilância militar contribui para uma atmosfera constante de tensão, onde o exército israelense promove constantemente ataques contra os refugiados palestinos. Este muro, com 721 quilômetros de extensão, é um símbolo visível do apartheid imposto por Israel. A presença militar é constante e incursões israelenses ocorrem várias vezes por semana, resultando em frequentes confrontos entre jovens palestinos e forças israelenses. Estes confrontos impactam negativamente ainda mais na vida diária dos refugiados, interrompendo atividades do dia-a-dia, de trabalho, culturais, de lazer e esportivas, especialmente entre as crianças.

“Aqui, a situação sempre foi muito má: detenções, destruição de casas, falta de privacidade, tiroteio, gás lacrimogéneo… Mas desde aquele dia [Outubro 7], tudo piorou. Nós, jovens, somos um perigo nos postos de controlo militares, somos todos considerados terroristas, por isso tenho muito mais medo do que antes,” explica Said Zain, um psicólogo que trabalha no Centro Juvenil do campo. No mês passado, ele ficou chocado ao saber como os militares prenderam seu vizinho, Jader Lofti, pai de três filhas. Eles vendaram-no, amarraram-no, forçaram-no a ajoelhar-se e repetidamente lhe deram um soco no estômago até que ele desmaiou enquanto um deles filmava a coisa toda. Depois, para o desprezo de sua família e dos moradores de Aida, eles postaram nas redes sociais. “Se eles são capazes de fazer isso na frente da câmera, imagine o que eles fazem por trás,”, diz ele ao reproduzir as imagens.

Os moradores do campo enfrentam não apenas a violência física, mas também a humilhação psicológica. Vídeos de incursões militares, prisões de líderes comunitários e adolescentes, e a presença opressiva do muro e das torres de vigilância. Said Zain, um psicólogo que trabalha no Centro Juvenil do campo, descreve Aida como um “cemitério de sonhos” para os palestinos, onde é comum muitas pessoas sofrerem de vários transtornos psicológicos.

A Resistência do povo palestino

Apesar de toda opressão constante, a comunidade de Aida demonstra o espírito palestino. O campo abriga várias iniciativas culturais e esportivas que buscam superar a ocupação sionista. Um exemplo é o time de futebol Aida Celtic, que foi criado em 2016 em colaboração com a Brigada Verde, um grupo de fãs do Glasgow Celtic conhecido por sua solidariedade com a Palestina. O Aida Celtic oferece aos jovens uma oportunidade de participar de atividades esportivas e construir unidade entre os palestinos.

O Centro Cultural Lajee, que significa “refugiado” em árabe, é outra instituição importante no campo. Ele promove diversas atividades culturais e educacionais, apesar das frequentes interrupções causadas pelas incursões militares de Israel. Mohamed Alazaa, diretor do centro, destaca o impacto devastador que a violência tem sobre as crianças e jovens, que já enfrentam desafios significativos devido às condições de vida no campo.

A situação no campo de Aida exemplifica os terrores da ocupação enfrentados pelos refugiados palestinos em toda a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. A população de Aida, apesar de viver em condições extremas de superlotação e sob constante ameaça de violência, continua a lutar contra a ocupação sionista. A escultura de uma chave em frente ao muro de separação simboliza o direito de retorno às terras de onde as famílias foram expulsas, um direito que os refugiados continuam a clamar.