Jair Bolsonaro e outros líderes da empreitada golpista que culminou na invasão e vandalização da sede dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, estão hoje sentados no banco dos réus.
O STF deu início nesta segunda-feira (9) ao interrogatório dos protagonistas do golpe, começando pelo delator Mauro Cid, tenente-coronel que foi ajudante de ordens do ex-presidente.
Agronegócio financiou golpistas
Indagado pelos ministros Alexandre Moraes, relator do caso, Luiz Fux e pelo Procurador Geral da República, Paulo Gonet, Cid basicamente reafirmou o que já tinha relatado na delação, confirmando a conspiração golpista que planejou inclusive o assassinato do presidente Lula, do vide Geraldo Alckmin e do ministro do STF, Alexandre Moraes.
O tenente coronel confessou que repassou dinheiro para financiar os acampamentos golpistas que foram montados diante dos quartéis militares e que tiveram papel proeminente na preparação e desencadeamento do 8 de janeiro.
Os recursos lhe foram repassados pelo general Braga Neto, que foi confinado ao xadrez pelo STF e também será ouvido nesta fase de interrogação dos réus que constituem o chamado núcleo 1 da articulação golpista.
O general golpista também era um intermediário nesta tenebrosa transação. Em seu depoimento, Mauro Cid sugeriu que a origem do dinheiro estava no agronegócio, ou seja, que os grandes capitalistas do campo estavam firmemente empenhados no financiamento da aventura criminosa capitaneada por Jair Bolsonaro.
É de se esperar que esses figurões, bilionários poderosos com forte influência no Congresso Nacional, também sejam devidamente investigados e condenados pelo envolvimento no golpe de Estado, que felizmente não vingou.
A ordem dos depoimentos no STF
Confira abaixo a lista dos acusados que fazem parte do núcleo principal, no entendimento da Procuradoria Geral da República, e devem depor por ordem alfabética, após o delator Mauro Cid.
Alexandre Rodrigues Ramagem
Deputado federal, concorreu à prefeitura do Rio de Janeiro em 2024 ano pelo PL. É ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e delegado da Polícia Federal.
Almir Garnier Santos
Almirante de esquadra e ex-comandante da Marinha no governo de Bolsonaro. Ele defendeu os acampamentos em frente a quartéis do Exército depois da derrota de Bolsonaro na eleição de 2022 e prometeu mobilizar as tropas sob seu comando em defesa do golpe.
Anderson Gustavo Torres
Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-delegado da Polícia Federal. A polícia encontrou com ele uma minuta que sugeria a decretação de Estado de Defesa para intervenção nas eleições.
Augusto Heleno Ribeiro Pereira
Ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional e general da reserva do Exército. Foi capitão do Exército durante a ditadura militar. Segundo a PF, o grupo que tramava o golpe pretendia criar um “gabinete de gestão de crise” comandado por Heleno.
Jair Bolsonaro
Ex-presidente da República. Segundo a PGR, teria participado da formulação e edição de minutas do golpe. Além disso, segundo a denúncia, estaria totalmente a par do plano “Punhal Verde Amarelo”, para assassinar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. Foi o principal comandante da empreitada golpista.
Paulo Sérgio Nogueira De Oliveira
Ex-ministro da Defesa, general da reserva e ex-comandante do Exército. Enviou um ofício em junho de 2022 com queixas ao TSE de que sete propostas feitas pelas Forças Armadas não estariam sendo devidamente consideradas.
Walter Souza Braga Netto
Ex-ministro da Defesa e candidato a vice de Bolsonaro em 2022. Segundo a PF, teria chefiado um gabinete de crise para realizar novas eleições e participado da elaboração dos planos golpistas. Está preso preventivamente no Rio e deve falar remotamente.