A história do venezuelano Wuilinton Quintero, morador de Manaus (AM), exemplifica como o empreendedorismo tem se tornado alternativa concreta para migrantes em busca de renda no Brasil. Há seis anos no país, ele superou barreiras como o idioma, a informalidade e a adaptação cultural para abrir seu próprio salão, o Studio W&E.
Formado como cabeleireiro pelo Senac Amazonas, começou atendendo a domicílio. Hoje, com o próprio estúdio, vê na trajetória de microempreendedor uma forma de construir estabilidade. “Saí do meu país por motivos que muitos conhecem. Vim ao Brasil com o objetivo de crescer como profissional”, conta.
Além disso, Wuilinton foi um dos participantes do Projeto Negócio Raiz, que atua no fortalecimento do ecossistema empreendedor da bioeconomia nas regiões Norte e Nordeste. A iniciativa já atendeu mais de 800 microempreendedores em seu primeiro ciclo. Em 2025, promove novas turmas presenciais no Pará e na Bahia, além de formações online via WhatsApp.
Formação, rede e apoio
Ao participar da capacitação, Wuilinton afirma que encontrou mais do que conhecimento técnico. Segundo ele, a convivência e o apoio entre os participantes contribuíram para o desenvolvimento do negócio. “O companheirismo e o aprendizado foram os elementos que mais contribuíram para o meu estúdio”, afirma. “É preciso construir degrau por degrau para alcançar bons resultados.”
Mesmo durante a pandemia de Covid-19, ele manteve o atendimento agendado e seguiu ativo no mercado. A habilidade de se comunicar com brasileiros e com a comunidade venezuelana o ajudou a expandir a clientela. “Foi difícil, mas não desisti”, diz.
Mais empreendedores imigrantes no país
De acordo com dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a região Norte respondeu por 72% dos pedidos de refúgio no terceiro quadrimestre de 2024. Isso representou aumento de 45,5% em relação ao período anterior. Muitos desses migrantes passaram a empreender.
Segundo levantamento do Sebrae, entre 2019 e 2023, o número de microempreendedores individuais (MEIs) estrangeiros cresceu 74% no Brasil. Os venezuelanos lideram com 12,8 mil registros, seguidos por bolivianos (9,9 mil), colombianos (7,3 mil) e argentinos (6,3 mil).
Além disso, as atividades mais escolhidas incluem comércio varejista de roupas (13,1%), confecção de vestuário (9,9%), serviços de beleza (6,13%) e atividades de ensino (5,28%). Até 2024, mais de 76 mil imigrantes estavam formalizados como MEIs no país.
Tecendo Sonhos apoia mulheres
Outro projeto voltado ao público imigrante é o Tecendo Sonhos, da Aliança Empreendedora. A ação é desenvolvida em parceria com o Programa Moda Justa e Sustentável. O projeto capacita mulheres imigrantes em São Paulo, com foco na formalização, saúde financeira e relações de trabalho mais justas.
Na última edição, realizada em 2024, 36 mulheres participaram das formações. Três delas receberam prêmios de mil reais, uma máquina de costura industrial e um kit de materiais. Entre as selecionadas, está Arody Poma, boliviana que chegou ao Brasil para ajudar a quitar dívidas da família.
Poma enfrentou condições de trabalho análogas à escravidão ao chegar ao país. Sem documentação e sem informação, trabalhou longas jornadas sem direitos. A realidade mudou ao conhecer o Tecendo Sonhos por meio de outras mulheres que já tinham passado pelo curso.
“O projeto chegou na hora certa. Eu tinha acabado de abrir minha oficina e precisava aprender a administrar o negócio”, conta. Hoje, ela vive na zona norte de São Paulo, mantém sua oficina formalizada e pretende contratar outros imigrantes. Além disso, quer lançar suas próprias criações de moda e fazer com que mais pessoas conheçam seus desenhos.
Autonomia e renda
Cristina Filizzola, presidente da Aliança Empreendedora, destaca a importância do suporte a imigrantes que veem no empreendedorismo a única alternativa viável. “Nosso papel é garantir que esse caminho seja possível, digno e sustentável, com capacitação, rede de apoio e orientação”, afirma.
Segundo ela, muitos migrantes têm trajetória profissional em seus países e, ao chegar ao Brasil, precisam recomeçar do zero. Projetos como o Tecendo Sonhos e o Negócio Raiz ajudam a criar oportunidades reais de geração de renda, mesmo em contextos de alta vulnerabilidade.
Negócio Raiz
O projeto é uma iniciativa da Aliança Empreendedora com apoio da Youth Business International (YBI) e financiamento da Standard Chartered Foundation (SCF). A ação faz parte do programa Futuremakers do Standard Chartered. O objetivo é capacitar jovens microempreendedores nas regiões Norte e Nordeste. As formações incluem cursos, mentoria e conexões com oportunidades de geração de renda.