O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a cobrar o comparecimento do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro deste ano em Belém, no Pará.
Sem mencionar diretamente o nome de Trump, Lula enviou uma mensagem clara ao ex-líder norte-americano durante seu discurso de abertura na terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (UNOC3), realizada nesta segunda-feira (9), em Nice, na França.
Durante a fala, Lula afirmou que é necessário “convencer o chefe de Estado desse mundo de que a questão climática não é invenção de ciência, não é brincadeira da ONU”. O presidente brasileiro destacou que o enfrentamento das mudanças climáticas deve ser tratado como uma prioridade global e que a humanidade precisa reconhecer a gravidade da situação.
“A questão climática é uma necessidade vital de preservação do nosso ambiente. A gente vai ter que tomar uma decisão: primeiro, se acredita ou não. Se acredita, nós vamos ter que decidir que não existe outro espaço para a gente viver. É no planeta Terra”, declarou.
O evento em Nice é coorganizado pela França e pela Costa Rica e reúne mais de 60 chefes de Estado e de governo. A conferência busca renovar os compromissos internacionais com a conservação dos oceanos e a utilização sustentável de seus recursos.
A UNOC3 também está diretamente relacionada à meta número 14 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata da proteção da vida marinha. Embora seja a única meta específica voltada para os oceanos, sua implementação tem sido considerada insuficiente.
De acordo com a ONU, os oceanos cobrem aproximadamente dois terços da superfície da Terra e são essenciais para o equilíbrio climático do planeta. Ainda assim, os instrumentos de proteção internacional permanecem frágeis e o financiamento para ações ambientais relacionadas aos mares é limitado.
Durante a semana da conferência, os países presentes deverão anunciar compromissos voluntários em prol da preservação marinha, culminando em um pacto político conjunto até o encerramento do evento, previsto para sexta-feira, 13.
Durante sua participação, o presidente Lula destacou a importância do encontro para o Brasil, especialmente no contexto da preparação da COP30, que será sediada em território brasileiro. O governo vê na UNOC3 uma oportunidade para ampliar o debate internacional sobre a relação entre os oceanos e o clima global.
Segundo Lula, o Brasil apresentou sete compromissos voluntários durante a conferência. Eles abrangem áreas como proteção de ecossistemas marinhos, planejamento espacial marítimo, pesca sustentável, ciência e educação.
Um dos principais anúncios foi o aumento da cobertura de áreas marinhas protegidas no país, de 26% para 30%. “Além de zerar o desmatamento até 2030, vamos ampliar de 26% para 30% a cobertura de nossas áreas marinhas protegidas, cumprindo a meta do Marco Global para a Biodiversidade”, afirmou o presidente.
Entre as outras iniciativas mencionadas por Lula estão programas voltados à preservação de manguezais e recifes de corais, além da elaboração de uma estratégia nacional para combater a poluição por plásticos nos oceanos.
O presidente também mencionou a inclusão da cultura oceânica no sistema educacional brasileiro. “Com apoio da Unesco, o Brasil foi o primeiro país a incluir a cultura oceânica nos programas escolares e continuará qualificando professores para o ensino do Currículo Azul”, declarou.
Além de Lula, outras lideranças internacionais participaram da abertura da conferência, incluindo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, e o presidente da Argentina, Javier Milei. O secretário-geral da ONU, António Guterres, também discursou e alertou para o estado crítico dos oceanos.
Segundo Guterres, os oceanos estão presos em um ciclo vicioso, sendo simultaneamente vítimas e aceleradores das mudanças climáticas. De acordo com ele, ao absorverem níveis crescentes de dióxido de carbono, as águas marinhas se tornam mais quentes e ácidas, o que compromete o equilíbrio dos ecossistemas marinhos.
Ainda segundo dados da ONU, os oceanos são responsáveis por alimentar cerca de 3 bilhões de pessoas em todo o mundo e representam a principal fonte de sustento para aproximadamente 600 milhões de indivíduos.
A expectativa do governo brasileiro é de que a realização da UNOC3 sirva como um catalisador político e técnico para ampliar a visibilidade das ações que serão propostas durante a COP30. A conferência em Belém terá como foco principal o fortalecimento dos compromissos multilaterais em torno da redução de emissões de gases de efeito estufa e da adaptação às mudanças climáticas, especialmente em regiões vulneráveis.
A presença de líderes globais, incluindo representantes de grandes potências, é considerada estratégica pelo Palácio do Planalto para garantir o peso político da cúpula do clima.
Embora Lula não tenha mencionado diretamente o nome de Donald Trump em seu discurso, a referência feita durante o evento é interpretada como mais uma tentativa do governo brasileiro de envolver os Estados Unidos nos debates climáticos internacionais.