O Corinthians travou lutas importantes desde os primeiros anos de sua existência. Em 1910, o clube popular formado por operários, imigrantes e negros foi fundado, em meio a um futebol dominado por aristocratas e racistas como os dirigentes do Paulistano. A Federação Paulista, dominada por essa elite, tentou barrar a entrada do Corinthians por causa da sua composição social. Mas em 1913, forçando passagem com vitórias e mobilização, o clube entrou no campeonato. No ano seguinte, 1914, já conquistava seu primeiro título. Nas décadas de 1920 e 1930, construiu sua hegemonia no futebol paulista com várias conquistas. Em 1953, com a conquista do Torneio Rio–São Paulo, foi aclamado como “Campeão dos Campeões”, mesmo ano que venceu a Pequena Taça do Mundo — um título internacional equivalente ao mundial de clubes antes da era FIFA.

Depois de longas crises, uma época de ouro se iniciou com a conquista do primeiro título do Campeonato Brasileiro em 1990 e perdurou até o final da década de 2010 — acumulando outros títulos nacionais como Copa do Brasil e Supercopa do Brasil, bem como, internacionais como a Libertadores da América, Recopa e os Mundiais de Clubes. Porém, não conquista um título de maior peso desde o Brasileirão de 2017, há quase uma década. Em campo, o Corinthians atravessa uma de suas piores fases. Nos últimos anos, foi eliminado nas fases iniciais da Libertadores da América e nas fases finais da Copa do Brasil sem convencer. Chegou até a flertar com o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, escapando apenas nas rodadas finais.

A insatisfação fez a torcida ocupar a sede e falar em fazer uma revolução. Com faixas denunciando a má administração, o golpe da SAF e exigindo direito de voto aos sócios-torcedores, os manifestantes escancararam a farsa da “democracia” atual: apenas cerca de 4 mil pessoas têm direito a voto num clube com milhões de torcedores. São essas milhões de pessoas que financiam o clube comprando ingressos, camisas e produtos oficiais; e que exigem agora o que é de direito: decidir os rumos do Corinthians.

A tentativa de transformar o Corinthians em SAF é parte de um plano evidente: afundar o clube para vendê-lo barato. Afinal, qual bilionário não gostaria de transformar em produto a torcida mais ativa do planeta? E o problema não é uma diretoria ou outra. São os capitalistas. O Corinthians é o clube que mais ganhou edições da Copa São Paulo de futebol júnior. Com tantos jovens revelados, por que há tantos estrangeiros na equipe?

A ocupação da sede do Corinthians por torcedores organizados não pode se limitar apenas a um protesto contra os escândalos envolvendo a direção do clube: deveria se tornar uma tradição revolucionária no futebol. Um movimento de base, popular, independente e político, que seja ainda mais importante que a Democracia Corintiana dos anos 1980 e apontar para um novo caminho — o controle do clube por seus verdadeiros donos: os torcedores.

Por inúmeras vezes, as torcidas demonstraram ser um instrumento de luta política. A torcida do Corinthians esteve em diversas manifestações no passado, como as mobilizações pelo fim da Ditadura Militar, as Diretas já!. Mais recentemente, combateu nas ruas a ditadura do PSDB em São Paulo: denunciando o roubo da merenda nas escolas do governo Alckmin e participando das ocupações contra o fechamento de escolas na administração tucana. Também protestou contra a “elitização” das arquibancadas, defendendo ingresso popular. Esteve nas ruas contra repressão da PM e pelo Fora Alckmin, em virtude das privatizações do transporte, saúde e educação. Lutou ainda contra o golpe de 2016 e pelo Fora Bolsonaro, quando saíram às ruas com muita disposição para enfrentar fisicamente a extrema-direita, enquanto partidos, sindicatos e movimentos liderados por determinados setores esquerda se escondiam “debaixo da cama”.

A história da torcida do Corinthians é marcada por atos extraordinários de mobilização popular. A invasão do Maracanã em 1976, quando 70 mil corintianos transformaram o maior estádio do mundo em um reduto alvinegro, e a marcha épica rumo ao Japão em 2012, quando milhares cruzaram o mundo para apoiar o time contra o Chelsea. São acontecimentos que não encontram paralelos no futebol e que demonstram um potencial muito extraordinário para a luta política.

As torcidas teriam que levantar-se pela ruptura desse modelo empresarial, fechar as portas dos clubes para as casas de apostas que manipulam resultados e instalar uma verdadeira administração popular nos clubes de futebol. Os torcedores deveriam lutar contra a censura e repressão da PM nos estádios, com o povo, defender os direitos democráticos. Defender salário, emprego, moradia, saúde e educação. Combater o sionismo, a Polícia Militar, os bancos e o imperialismo.

Se levarem ao fim e a cabo essa luta, o futebol brasileiro nunca mais seria o mesmo. O Corinthians poderia dar o exemplo: ser o primeiro grande clube de futebol a ser dirigido por seus torcedores. Com ingresso popular, sem o monopólio da TV e o parasitismo capitalista. 

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Last Update: 08/06/2025