
O estudante Marcelo Gomes, de 18 anos, descreveu como “humilhante” sua experiência ao ser detido por engano e mantido por seis dias num centro de detenção do ICE, em Massachusetts, construído para abrigar presos por, no máximo, 72 horas. Segundo ele, a operação mirou inicialmente seu pai, mas Marcelo acabou algemado e informado de que estava “de forma irregular no país”. As informações são de Jamil Chade, do UOL.
Dentro da cela, Marcelo dividiu o espaço exíguo com 35 homens de diferentes nacionalidades, dormindo em cobertores de alumínio que “fazia muito barulho para dormir” e usando um único banheiro vigiado por câmeras. “Era tudo muito humilhante”, resumiu o jovem, lembrando sobretudo o constrangimento de dividir o vaso sanitário com tantos outros detentos.
A comida, segundo ele, era “péssima qualidade”. “Nem cachorro vira-lata comeria aquilo”, afirmou, referindo-se a macarrões processados que pareciam plástico. Para sobreviver, Marcelo e os outros detentos recorriam a bolachas distribuídas apenas esporadicamente, as únicas “coisas que implorávamos para ter”.
O estudante também presenciou policiais se divertindo com o desespero dos imigrantes. “Cada vez que a porta do quarto se abria […] um deles falava: trolei eles”, relatou Marcelo, que chegou a atuar como tradutor para companheiros que não falavam inglês e tiveram de assinar documentos de deportação “ de mentira” — pois, segundo ele, o guarda jamais dava a notícia na língua nativa dos detidos.

Sem janelas ou referência de tempo, Marcelo passou noites sem conseguir fechar os olhos por mais de duas horas, sofrendo com luzes acesas o tempo todo e dormindo no piso de concreto. Para amenizar o clima, organizou momentos de oração que, garantiu, “trazia paz” e “acalmar os corações” dos detentos.
Solto após o pagamento de fiança, Marcelo preferiu não comentar a política de migração de Donald Trump, mas manifestou preocupação com os pais, ainda em situação irregular, e conclamou: “Vamos lutar para termos liberdade e viver em paz”.