O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou neste sábado, 7, em Paris, que Vladimir Putin foi formalmente convidado para a cúpula do BRICS, que ocorrerá no Rio de Janeiro nos dias 6 e 7 de julho. A declaração foi dada durante uma entrevista coletiva à imprensa internacional, enquanto Lula cumpre agenda oficial na França.

Ao ser questionado por um jornalista francês sobre a participação do presidente russo, Lula afirmou que a Rússia é um dos países fundadores do bloco e, por esse motivo, o convite está mantido.

“A Rússia é membro da OTAN dos BRICS. Portanto, o presidente Vladimir Putin está convidado. Ele pode participar ou não. Ele sabe que corre riscos porque está condenado por um tribunal internacional”, afirmou, referindo-se ao mandado de prisão expedido contra Putin pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Segundo Lula, cabe ao líder russo decidir se comparecerá ao encontro.

Durante a coletiva, o presidente brasileiro também abordou o conflito entre Rússia e Ucrânia. Lula afirmou que compreende a posição dos líderes europeus, mas espera que sua postura também seja considerada.

“Sobre a guerra da Ucrânia, eu compreendo o calor dos dirigentes europeus. Agora eu quero que eles compreendam o meu comportamento. Eu defendo a paz”, declarou.

Lula afirmou que as bases para um eventual acordo entre as duas nações já são conhecidas e que o principal obstáculo para a resolução do conflito é a ausência de iniciativa política.

“Todo o mundo sabe o que vai acontecer. As condições do acordo entre Rússia e Ucrânia já estão colocadas. O que está faltando é coragem”, disse.

O presidente também afirmou ter sugerido ao presidente francês Emmanuel Macron que a Organização das Nações Unidas (ONU) assuma um papel mais ativo nas negociações. “Propus ao presidente Emmanuel Macron que o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, procure Putin e o Zelensky em busca de um acordo.”

Para Lula, a solução exigirá concessões mútuas. “Ninguém vai ter tudo o que quer. Cada um vai ficar com o que for possível conquistar”, afirmou.

Durante a mesma fala, o presidente brasileiro abordou o conflito na Faixa de Gaza e equiparou a gravidade da situação à guerra na Ucrânia. “Agora tão grave quanto a Ucrânia é Gaza. Estamos dizendo uma nação. A pretexto de quê?”, questionou. Lula também afirmou: “O palestino não é um ser inferior.”

Ele levantou dúvidas sobre a atuação da inteligência de Israel. “Eu também me questiono como a inteligência de Israel permitiu que a invasão do Hamas ocorresse”, afirmou. Segundo Lula, o conflito entre Israel e Palestina possui fatores que ainda precisam ser esclarecidos.

Lula também voltou a defender uma atuação internacional mais ativa por parte do Brasil. Ele declarou que o país não pode mais adotar uma postura subordinada nas relações exteriores e que pretende manter uma diplomacia voltada para o fortalecimento da soberania brasileira. “O Brasil precisa deixar de ser pequeno. Os nossos embaixadores precisam pensar grande. A gente não é menor do que ninguém”, disse.

O presidente criticou gestões anteriores da política externa brasileira e afirmou que o país deve ocupar o espaço que lhe cabe no cenário global. “Acabou o momento em que o Brasil não foi levado em conta. O Brasil hoje se faz cumprimentos. Nós somos do Sul Global e não convidamos nada a ninguém.”

A confirmação da cúpula do BRICS no Brasil, com a possibilidade de participação de chefes de Estado como Vladimir Putin, ocorre em meio a um cenário internacional marcado por conflitos armados, tensões diplomáticas e debate sobre a representatividade de fóruns multilaterais. A posição do Brasil, segundo Lula, será de mediação e busca por soluções negociadas.

A reunião do BRICS em julho reunirá os países-membros fundadores – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – além de novos integrantes admitidos recentemente, como Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. A agenda deve abordar temas como comércio, financiamento internacional, reforma das instituições multilaterais e mecanismos de cooperação Sul-Sul.

A declaração de Lula também ocorre no momento em que o Tribunal Penal Internacional mantém ativo um mandado de prisão contra Putin por supostos crimes de guerra relacionados à deportação de crianças ucranianas.

O Brasil é signatário do Estatuto de Roma, que criou o TPI, o que tecnicamente exigiria o cumprimento do mandado em território nacional. No entanto, o governo brasileiro ainda não indicou como atuaria diante da eventual presença de Putin no país durante o evento.

A posição de Lula sobre os conflitos internacionais reafirma o discurso adotado desde o início de seu terceiro mandato, com foco na valorização da paz, do multilateralismo e da autonomia diplomática do Brasil.

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Last Update: 07/06/2025