A redução no preço da gasolina anunciada pela Petrobras no início da semana ainda não foi integralmente refletida nas bombas de combustíveis.

Segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgado nesta sexta-feira, 7, o valor médio do litro do combustível caiu R$ 0,02, passando de R$ 6,27 para R$ 6,25. O montante está distante dos R$ 0,12 por litro estimados pela estatal como impacto potencial do reajuste.

Dados da empresa de gestão de frotas ValeCard apontam que a diminuição nos preços foi registrada em apenas dez estados. Em apenas três deles, o recuo ultrapassou R$ 0,05.

O levantamento reforça a percepção de lentidão na cadeia de repasse, algo que tem sido objeto de críticas e disputas entre os agentes do setor.

A Petrobras afirma que a defasagem entre os preços de refinaria e os valores pagos pelos consumidores é responsabilidade das demais etapas da cadeia, como distribuidoras e postos.

“Em reduções recentes do diesel, as principais distribuidoras não repassaram a baixa na íntegra”, declarou o Sindicato dos Postos do Paraná (Paranapetro), em nota emitida após o anúncio da Petrobras. Segundo a entidade, a velocidade do repasse depende diretamente da atuação das distribuidoras.

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, também se manifestou sobre o tema nesta semana. Em declarações públicas, ela sugeriu que os consumidores cobrem diretamente os postos para que os preços reflitam com mais agilidade as reduções realizadas pela companhia. A posição reforça críticas anteriores, quando a estatal também registrou demora na transferência de cortes no preço do diesel.

O comportamento dos preços do diesel corrobora o padrão identificado no caso da gasolina. De acordo com a ANP, desde o pico de R$ 5,72 por litro, registrado no início de fevereiro, o preço médio do diesel repassado pelas distribuidoras caiu R$ 0,37.

Entretanto, nos postos de abastecimento, a redução acumulada desde o final daquele mês foi de apenas R$ 0,39. Os dados mostram que o desconto, embora existente, ocorre de forma parcial e com atraso.

Na última semana, a redução nos preços do diesel foi considerada marginal. O litro do diesel S-10 registrou queda de apenas R$ 0,01, sendo comercializado em média a R$ 6,05.

O etanol hidratado também teve variação pequena, com recuo de R$ 0,03, encerrando a semana a R$ 4,24 por litro. A leve redução foi influenciada pela entrada da safra de cana-de-açúcar no mercado, o que aumentou a oferta do biocombustível.

A demora no repasse de preços tem efeitos que ultrapassam o consumo imediato. A gasolina tem peso relevante na composição do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação brasileira.

Segundo o economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a concretização da queda de R$ 0,12 prevista pela Petrobras poderia gerar impacto de até -0,10 ponto percentual no IPCA.

O especialista ressalta, porém, que esse efeito depende da efetiva chegada do desconto ao consumidor final. “O corte só impacta a inflação se for percebido na bomba, e não apenas na refinaria”, afirmou Braz.

O modelo de distribuição de combustíveis no Brasil é descentralizado, composto por diferentes camadas entre produção, distribuição e venda. Essa configuração tem sido apontada como um dos fatores que dificultam o repasse rápido das variações de preço.

Além disso, os preços praticados nos postos podem ser influenciados por estoques anteriores adquiridos com valores mais altos, pela estratégia comercial dos revendedores e por condições regionais de oferta e demanda.

Enquanto o debate se prolonga, os consumidores continuam pagando valores próximos aos praticados antes do corte. A diferença entre os preços estimados pela Petrobras e os observados nas bombas permanece como fator de pressão no mercado e nas discussões sobre transparência na formação dos preços de combustíveis.

O tema também tem implicações políticas e econômicas. A demora na queda dos preços pode comprometer expectativas inflacionárias e estratégias de política monetária, especialmente em um cenário de metas de inflação mais rígidas. O governo acompanha o movimento dos preços como parte das análises macroeconômicas.

Não há, até o momento, uma previsão concreta de quando o corte anunciado pela Petrobras será integralmente refletido nos postos de abastecimento. A companhia, por sua vez, reafirma que os reajustes realizados seguem sua política de preços, mas não interfere na atuação dos demais agentes da cadeia.

Distribuidoras e postos não se manifestaram de forma unificada sobre os motivos da lentidão no repasse. Algumas entidades do setor afirmam que a margem de lucro vem sendo pressionada por custos operacionais e tributários, o que dificultaria uma redução imediata.

O cenário reforça o histórico de divergências sobre a estrutura de preços dos combustíveis no país. Com múltiplos fatores interferindo na formação dos valores finais ao consumidor, as oscilações anunciadas pela Petrobras continuam sujeitas a repasses parciais e desiguais.

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Last Update: 07/06/2025