Wagner Gomes
Jair Bolsonaro (foto/reprodução internet) ainda não descobriu que a direita brasileira não é cartório nem repartição pública — não tem dono com crachá vitalício. Ele está irritadiço — e quando um populista se irrita, é sempre porque as plateias começaram a pensar por conta própria. Incomodado com o silêncio calculado de seus “subordinados” sobre a anistia, o ex-presidente — sempre pronto a medir lealdade com régua própria — agora desconfia da própria tropa. Não ajuda o fato de que, a cada nova pesquisa ou reunião partidária, algum parente seu ressurge como solução nacional, como se o Brasil fosse o quintal de sua casa: ora é o filho 03, autoexilado, sonhando com candidatura presidencial; ora a esposa rivalizando com Lula ou então o filho 02 ensaiando projeção nacional, como se eles todos pudessem se apropriar de uma falsa herança genética da extrema-direita. O problema é que, se Bolsonaro estivesse tão forte quanto sua retórica sugere, não mendigaria anistia nem dependeria da ajuda (não se sabe como!) de um descompensado da América do Norte. Enquanto isso, ele cita o “Congresso americano” com a intimidade de quem nunca entendeu o que é soft power. Líderes de verdade não pedem fidelidade: colhem-na. Sem pressão, sem súplica, sem chantagem emocional. Já Bolsonaro colhe algo diferente: alternativas. Muitas. A tal ponto que sua liderança parece inspirar mais planos B do que alinhamentos reais. Bolsonaro ainda fala grosso, mas ouve-se cada vez mais baixo. Porque, no fim, a direita brasileira aprendeu: quem berra muito, lidera pouco. E quem vive de fidelidade cobrada, coleciona traições silenciosas. O bolsonarismo virou uma microempresa familiar com ambições imperiais. Mas enquanto o clã distribui cargos imaginários, quem realmente decide os rumos da direita atende por Tarcísio de Freitas — “apaulistado”, discreto, calculado. Se ele for candidato, será o nome a unir os moderados, os pragmáticos e até os arrependidos. Se não for, a fila anda — e anda sem olhar para trás. Porque, no fundo, a direita, diferentemente da esquerda, não tem dono. E se tivesse, Bolsonaro estaria prestes a ser despejado, pois seu capital político virou ação de centavo na bolsa da viabilidade, cotada por quantia bem aquém do pretenso valor de face.
Wagner Gomes – Articulista