
Abriram a cabeça de Chico Buarque, que estava com excesso de líquido, para colocar um dreno. Ele já está em casa e semana que vem volta a jogar futebol.
Li a notícia e pensei no dia em que vi uma operação, no Hospital da PUC de Porto Alegre, para retirada de parte do lobo frontal do cérebro de um paciente que sofria com crises de epilepsia.
Durante mais de duas horas, vi o neurocirurgião cortando pedaços microscópicos do cérebro, com um bisturi, com uma habilidade e uma paciência que nunca tinha visto. A intervenção em parte do cérebro poderia interromper ou atenuar as crises.
O buraco em que ele trabalhava era pouco maior do que uma caixa de fósforos. Foi mágico ver um cérebro exposto, sem a tampa da calota que havia sido cortada e depois seria recolocada.

Um assistente ficava ao lado jogando jatos de soro de uma seringa dentro da cabeça, para regar a área e manter a hidratação do cérebro.
O cirurgião às vezes afastava-se, tomava água numa sala ao lado, lavava as mãos, recolocava as luvas e voltava a cortar o cérebro. Fazia manobras em espaços mapeados antes por um físico.
Não me lembro do nome deles – do médico que operava, do auxiliar que ficava com a seringa e do anestesista. Não guardei o texto publicado em Zero Hora e não há na internet. Mas me lembro deles, da cena toda e daquele cérebro exposto.
Relembrei o que vi pensando nos médicos que operaram Chico. Aí descobri que a sonda que levou uma válvula ao centro da sua cabeça passou por um buraco de apenas dois centímetros.
Mesmo assim, imagino o que os médicos do Hospital Copa Star sentiram ao ver pela fresta, e não só pelo vídeo, o cérebro de um gênio.