Mulheres de religião afro-brasileiras fazem celebração no Planalto. Foto: reprodução

As religiões de matriz africana registraram o maior crescimento proporcional entre 2010 e 2022 no Brasil, com o número de adeptos da umbanda e candomblé saltando de aproximadamente 600 mil para 1,8 milhão de pessoas, segundo dados do Censo Demográfico 2022 divulgados nesta sexta-feira (6) pelo IBGE. O aumento de 208% contrasta com a estabilidade de outras tradições religiosas no período.

A pesquisa revela um perfil diversificado entre os praticantes: 42,9% se declaram brancos, 33,2% pardos e 23,2% pretos. Embora os brancos continuem sendo o maior grupo em números absolutos (794 mil), sua participação relativa caiu 3,8 pontos percentuais em relação a 2010. Já pardos e pretos aumentaram sua representação em 2,8 e 1,4 pontos percentuais, respectivamente.

De acordo com os dados, 1% da população branca, 2,8% dos pretos e 0,8% dos pardos do Brasil seguem essas religiões. No total, 1% dos brasileiros são adeptos, um aumento triplo aos 0,3% registrado em 2010.

“O que percebemos é um movimento feito nos últimos anos contra a intolerância religiosa, com maior visibilidade dessas religiões”, analisa Maria Goreth Santos, técnica do IBGE. A especialista sugere que parte do crescimento pode refletir uma migração de pessoas que antes se declaravam espíritas ou católicas por medo de retaliação, mas que agora assumem sua filiação religiosa aberta.

A distribuição geográfica mostra concentrações distintas: brancos predominam como seguidores no Distrito Federal e em sete estados do Centro-Sul, enquanto pretos são maioria na Bahia e pardos nos demais estados. As mulheres representam 56,7% dos adeptos, com maior participação na faixa etária de 30 a 39 anos (21,6%).

Umbandistas em oração. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

No campo educacional, 39,9% dos praticantes têm ensino médio completo ou superior incompleto, e 25,5% possuem diploma universitário. Apenas 19,9% não completaram o ensino fundamental.

Para Carolina Rocha, pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião, o crescimento reflete mudanças sociais mais amplas: “A mobilização política e cultural de lideranças religiosas, somada a políticas de inclusão racial como a lei de cotas, criou novas formas de pertencimento étnico-racial e religioso”, disse à Folha de S.Paulo.

A especialista alerta, porém, que os números ainda podem estar subestimados devido ao que chama de “fluidez religiosa”: “Muitas pessoas mantêm dupla pertença ou estão em trânsito entre tradições, especialmente entre evangélicos e religiões afro-brasileiras, o que nem sempre é captado pelo Censo”.

O aumento ocorre apesar dos persistentes desafios enfrentados por essas comunidades. “A violência, o racismo religioso e a perseguição às tradições de matriz africana continuam sendo obstáculos para uma plena manifestação religiosa”, completou Carolina.

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Last Update: 06/06/2025