
Os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo IBGE, revelam um cenário surpreendente na distribuição racial das religiões no Brasil: enquanto os evangélicos têm maioria parda e preta (72,3% somados), as religiões de matriz africana como umbanda e candomblé, que representam apenas 1% da população brasileira, apresentam predominância de brancos (42,9%) entre seus adeptos.
O crescimento evangélico, que tem raízes na influência dos Estados Unidos sobre o Brasil, atingiu seu ápice histórico, representando agora 26,9% da população, um aumento de 5,2 pontos percentuais desde 2010. Desse total, 49,1% se declaram pardos, 23,2% pretos e 26,8% brancos. Entre os indígenas, os evangélicos alcançam sua maior proporção (32,2%).
Já as religiões afro-brasileiras, que tiveram o maior crescimento proporcional, de cerca de 3 vezes entre 2010 e 2022, passando de 600 mil para 1,8 milhão de adeptos, apresentam um perfil racial inverso: 42,9% são brancos, 33,2% pardos e 23,2% pretos. Apesar da predominância branca, houve aumento na participação de negros, pardos cresceram 2,8 pontos percentuais e pretos 1,4 ponto desde 2010.

“O que percebemos é um movimento feito nos últimos anos contra a intolerância religiosa, com maior visibilidade dessas religiões”, analisou Maria Goreth Santos, técnica do IBGE. A especialista sugere que parte do crescimento pode refletir uma migração de pessoas que antes se declaravam espíritas ou católicas por medo de retaliação.
Entre as religiões analisadas, o espiritismo apresenta a maior concentração de brancos (63,8%), seguido por pardos (26,3%). Já as tradições indígenas têm 74,5% de adeptos indígenas. Os sem religião são majoritariamente pardos (45,1%) e brancos (39,2%).
A distribuição por faixa etária mostra que os evangélicos têm maior penetração entre os mais jovens (31,6% na faixa de 10-14 anos), enquanto os sem religião atingem seu pico entre 20-24 anos (14,3%). O catolicismo, ainda majoritário no país (56,7%), predomina entre idosos (72% acima de 80 anos).
Os dados revelam ainda que:
– Entre brancos, 60,2% são católicos e 23,5% evangélicos;
– Pessoas amarelas têm as maiores proporções de sem religião (16,2%) e outras religiosidades (13,6%);
– 1% da população branca, 2,8% dos pretos e 0,8% dos pardos seguem religiões afro-brasileiras;
– O total de adeptos de umbanda e candomblé triplicou desde 2010, passando de 0,3% para 1% da população.