A Organização das Nações Unidas (ONU) revelou na quarta-feira (29) a descoberta de uma vala comum com ao menos 77 corpos em Trípoli, capital da Líbia. As ossadas foram localizadas entre os dias 18 e 21 de maio, logo após uma onda de confrontos armados deflagrada pela execução de Abdelghani al-Kikli, chefe da milícia Aparelho de Apoio à Estabilização (SSA), entidade formalmente vinculada ao Governo de Unidade Nacional (GNU), instalado em Trípoli sob chancela da própria ONU.
Segundo o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR), as valas foram localizadas em locais de detenção “oficiais e não oficiais” operados pela milícia SSA, incluindo a sede do grupo em Abu Salim, onde foram encontrados dez corpos carbonizados, além de outros 67 armazenados em câmaras frigoríficas de hospitais.
Um terceiro local foi identificado dentro do zoológico da capital líbia, também controlado pela mesma milícia. As autoridades da ONU relataram ainda a presença de instrumentos de tortura e vestígios de execuções extrajudiciais nos locais.
“O que mais temíamos está se confirmando: dezenas de corpos foram descobertos nesses centros, junto a possíveis instrumentos de tortura e indícios de assassinatos sumários”, declarou o Alto Comissário Volker Türk, exigindo a preservação imediata das áreas para futuras investigações. “Esses locais devem ser lacrados e todas as evidências preservadas para que haja responsabilização. Os responsáveis por essas atrocidades devem ser levados à justiça sem demora”, afirmou.
A SSA, grupo paramilitar com vasta atuação em Trípoli, há anos acumula denúncias de desaparecimentos forçados, prisões arbitrárias e tortura. A recente crise se agravou com o assassinato de Al-Kikli, morto a tiros no dia 12 de maio no sul da capital. Sua morte desencadeou confrontos entre milícias rivais que resultaram em mortes de civis e danos a infraestruturas críticas, como hospitais.
A Líbia encontra-se, desde a intervenção da OTAN em 2011, num estado crônico de desintegração nacional. O ataque imperialista resultou na derrubada e no brutal assassinato do líder Muammar Gaddafi, abrindo caminho para a balcanização do país.
Desde então, a Líbia vive sob a divisão entre dois governos concorrentes: o GNU, apoiado pelo imperialismo e sediado em Trípoli, e o Governo de Estabilidade Nacional, baseado em Benghazi e ligado ao Parlamento líbio. Ambos disputam território através de milícias armadas e recebem apoio direto de forças estrangeiras como Catar, Turquia, Egito, além dos próprios países imperialistas.
As valas comuns se multiplicam no país. Em fevereiro deste ano, outras duas covas foram descobertas nas cidades de Jakharrah e Kufra, contendo 10 e 93 corpos, respectivamente. Rica em petróleo, a Líbia se converteu em um importante corredor para o tráfico humano e migração forçada rumo à Europa, fruto do completo colapso do Estado nacional após a invasão imperialista.
Durante a transmissão da última Análise Internacional no canal no Youtube do Diário Causa Operária, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO) Rui Costa Pimenta, comentou a gravidade da situação:
“A situação na Líbia é de total instabilidade, vive uma guerra civil permanente e latente; volta e meia ela se manifesta em guerra civil de fato. É difícil dizer o que vai acontecer. Se o grupo Wagner estiver envolvido, é evidente a mão da Rússia na crise. Vários países que têm interesse no que acontece na Líbia — Catar, Turquia, Egito —, isso fora os países imperialistas. Se efetivamente a Rússia estiver envolvida e essa investida derrubar o governo, a situação seria uma derrota bastante significativa para o imperialismo.
Descobriram uma cova coletiva com 77 corpos de pessoas assassinadas pelo governo apoiado pelo imperialismo. Temos essa crise porque justamente começaram a sair muitos relatos de violência na região próxima à capital por conta do conflito entre os dois governos: o apoiado pelo imperialismo e o opositor, escolhido pelo Congresso.”