O Dia Mundial do Meio do Ambiente, celebrado neste 5 de junho, traz importantes reflexões sobre a forma desigual com que mulheres e meninas são amplamente mais afetadas com as mudanças climáticas.
A cada episódio de eventos extremos do clima, fica mais evidente que as crises climáticas acentuam casos de violência contra a mulher e vulnerabilidade de gênero em escala mundial. O relatório “Justiça Climática Feminina: um modelo para ação”, publicado pela ONU Mulheres no último ano, indica impactos negativos nas condições econômica, social e de segurança alimentar de meninas e mulheres em territórios atingidos. Até 2050, prevê o documento, a mudança climática empurrará mais de 158 milhões de mulheres e meninas para a pobreza e levará mais de 236 milhões de mulheres à fome.
O direito a um meio ambiente limpo, saudável e sustentável é inseparável da luta pela igualdade de gênero. Uma coisa está intimamente relacionada à outra. Para a ONU Mulheres, defensoras dos direitos humanos das mulheres e grupos feministas, é preciso defender uma abordagem sensível ao gênero para as mudanças climáticas que devem ser integradas à formulação de políticas públicas ambientais em todos os níveis.
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Atualmente, as mulheres estão sub-representadas em ministérios de proteção ambiental no nível nacional. Enquanto a participação das mulheres nas delegações nacionais para as conferências climáticas COP da ONU aumentou de 30% para 35% entre 2012 e 2022, a proporção de delegações lideradas por mulheres diminuiu ligeiramente, de 21% para 20% no mesmo período.
Por isso, uma das formas que especialistas apontam como necessária para haver a busca por um meio ambiente mais protegido é a ampliação de mulheres em cargos de liderança nos espaços de tomada de poder, a exemplo do Brasil, que tem a ministra Marina Silva como a titular do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
Até 2050, afirma a ONU Mulheres “as mudanças climáticas podem levar mais 158 milhões de mulheres e meninas para a pobreza e fazer com que 236 milhões enfrentem mais insegurança alimentar. A crise climática provoca aumentos nos conflitos e migração, bem como retórica política anti-direitos e excludentes, visando mulheres, refugiados e outros grupos vulneráveis.”
O tema do impacto das mudanças climáticas na vida das mulheres já é debatido pelo Ministério das Mulheres desde 2023. Em novembro daquele ano, a pasta realizou o Seminário Nacional Mulheres e Justiça Climática, na véspera da COP 28, reunião anual das Nações Unidas sobre o clima. Na oportunidade, a então ministra defendeu a adoção de iniciativas que busquem mitigar os severos efeitos climáticos que afetam prioritariamente as mulheres.
“Nós estamos numa situação de urgência e emergência e, portanto, as decisões e as articulações precisam ser feitas, e elas são urgentes, seja para as mulheres quilombolas, para as indígenas, as extrativistas, as pescadoras, as mulheres ribeirinhas, mas as respostas precisam ter urgência. Como diz o presidente Lula, nós não podemos deixar para amanhã porque, se a população passa fome, precisa comer, a fome não pode esperar. Com os desastres naturais do clima também não se pode esperar mais”, alertou.
Enquanto presidia o G20, no ano passado, o governo brasileiro incentivou debates em torno do tema por meio do Grupo de Trabalho Empoderamento de Mulheres.
Dentre outras pautas, a agenda da justiça climática com enfoque de gênero foi amplamente debatida pelas delegações que integravam o GT, sempre na busca da construção de estratégias para resolução de problemas que afetam as mulheres em todo o mundo.
Ecoansidade
Com o aumento cada vez maior de uma série de episódios de catástrofes ambientais, com graves transformações da geografia dos continentes, é natural que as pessoas sintam um temor com essas mudanças no clima, uma sensação de angústia e medo do futuro. Para isso, dá-se o nome de ecoansiedade.
A psicóloga clínica e psicanalista em formação Isabella Rocha tem estudado a forma com que os impactos ambientais têm repercutido na psiquê humana. Segundo Rocha, a ecoansiedade é a angústia vivenciada a partir da consciência da situação climática do planeta. “Apesar de essa expressão já existir há um tempo, ela começou a repercutir mais quando foi utilizada pela American Psychological Association (APA) em 2017, que a conceituou como “um medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental”. Ela se manifesta no corpo como qualquer outra angústia e desconforto emocional: pode se converter em dores físicas ou manifestações psicossomáticas, ideias obsessivas e rituais compulsivos”, explica.
Na avaliação da psicóloga, as mulheres são, de fato, mais afetadas pelas mudanças climáticas e suas consequências. Ela destaca que as desigualdades de gênero estruturais e contextualizadas historicamente também recaem negativamente sobre as mulheres neste aspecto.
“De acordo com a Fundação das Nações Unidas, por precisarem se preocupar em maior escala com aspectos de: garantir comida, água, energia e recursos vitais, e principalmente, estarem sobrecarregadas com a necessidade de cuidar (seja de jovens, adultos ou idosos), tudo isso as coloca em maior risco de sofrer os impactos. E mais, elas sofrem mais com complicações de saúde física e mental com eventos como enchentes, secas, ondas de calor”, detalha a pesquisadora.
Ela ainda destaca a opressão de gênero, enfrentada por aquelas que integram espaços de destaque nos debates ambientais: “Essas mulheres líderes ambientais ativas têm suas vozes silenciadas ao se posicionar como representantes de suas comunidades e países, sofrendo altas taxas de violência de gênero e agressões com o intuito de descredibilizar seu ativismo.”
Da Redação do Elas por Elas, com informações da ONU Mulheres