
Por Ana Oliveira e Felipe Borges | Pragmatismo Político
“Se eu morrer envenenada, vocês já sabem…”. O áudio enviado por Ana Luiza de Oliveira Neves, de 17 anos, enquanto comia o bolo que tiraria sua vida, escancara o absurdo de um crime premeditado e motivado por mágoas acumuladas e ciúmes. A jovem morreu no último domingo (1º), em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, após ingerir um bolo de pote envenenado com óxido de arsênico, entregue em sua casa por um motoboy no dia anterior.
A autora do crime, também uma adolescente de 17 anos, confessou ter planejado o envenenamento por semanas. Ela foi apreendida e encaminhada à Fundação Casa, onde permanecerá provisoriamente por 45 dias. Segundo a polícia, se condenada, pode ficar internada por até três anos.
O plano e o veneno
De acordo com o inquérito conduzido pela Delegacia de Polícia de Itapecerica da Serra, a suspeita começou a planejar o crime no dia 14 de maio. No sábado (31), comprou um bolo de pote em uma doceria próxima à sua casa, misturou o veneno e mandou entregar como se fosse um presente.
Ana Luiza ingeriu o doce sem saber sua origem. Em um áudio enviado a amigas no momento em que comia o bolo, a adolescente parece desconfiada, mas tenta disfarçar o receio com bom humor:
“Gente, o que não mata, engorda, e se eu morrer, morreu, vapo. Queria saber quem foi, tô com medo, se eu morrer envenenada, vocês já sabem… Quero agradecer quem me deu isso.”
Logo após o consumo, Ana começou a sentir-se mal. Seu pai a levou a um hospital da região, onde foi diagnosticada inicialmente com intoxicação alimentar. Após receber alta, voltou para casa. No dia seguinte, no entanto, a jovem apresentou piora súbita, sofreu uma parada cardiorrespiratória e chegou sem vida à unidade de saúde.
Morte motivada por ciúmes
Segundo a Polícia Civil, o crime foi motivado por ciúmes e ressentimentos antigos. “Não foi um caso isolado, não foi por causa de um rapaz, mas por mágoas acumuladas envolvendo vários adolescentes. A autora relatou ter se sentido trocada ou preterida por Ana Luiza em algumas dessas situações”, afirmou o delegado Vitor Santos de Jesus.
Ouça o áudio que Ana Luisa enviou às amigas no momento em que comia o bolo envenenado que tirou sua vida:
"Gente, o que não mata, engorda e se eu morrer, morreu, vapo. Queria saber quem foi, tô com medo, se eu morrer envenenada, você já sabem… Quero agradecer quem me deu isso.” pic.twitter.com/3TJsTpyE0k
— poponze (@poponze) June 4, 2025
O delegado também descartou qualquer envolvimento dos garotos mencionados. “Eles não colaboraram com nada, nem sabiam que ela ainda carregava esse ressentimento. Foram episódios de até dois anos atrás que ela guardou em silêncio.”
Além de Ana Luiza, uma outra adolescente já havia sido envenenada pela mesma autora dias antes, também com um bolo de pote. A jovem chegou a passar mal, mas sobreviveu.
Arrependimento e alegação de sofrimento psicológico
Em seu depoimento, a adolescente disse que não tinha intenção de causar a morte da amiga, apenas queria que ela passasse mal. “Esperava que elas só sentissem sintomas ruins, como vômito”, disse. Afirmou ainda estar em sofrimento psicológico e demonstrou arrependimento ao saber da morte.
O veneno usado no crime — óxido de arsênico — é um composto altamente tóxico, e sua ingestão mesmo em pequenas quantidades pode levar à morte em poucas horas.
O velório e a despedida
O corpo de Ana Luiza foi enterrado na última terça-feira (3), sob forte comoção de familiares, colegas e amigos. O áudio enviado por ela instantes antes de morrer tornou-se uma triste lembrança de sua tentativa de manter o bom humor até o último momento, mesmo diante de uma situação suspeita que ela não conseguiu evitar.
O caso segue sob investigação. A adolescente autora do crime permanecerá em internação provisória e, se condenada, cumprirá medida socioeducativa de até três anos. A polícia também investiga como ela obteve o óxido de arsênico.
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