Romeu Zema, governador de MG. Foto: Zanone Fraissat/Folhapress

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

É esperado que um punhado de políticos corra para prometer indultos a golpistas nas eleições do ano que vem a fim de atrair os votos do público bolsonarista-raiz. A justificativa do pragmatismo eleitoral não perdoa a bicuda no estômago da democracia representada por uma atitude dessas, mas dá para entender do ponto de vista político.

Seria mais importante prometer formas de garantir que cidades não sejam engolidas por lama de mineradoras, trabalhadores não sejam escravizados e os salários dos gestores públicos não sejam bombados em época de crise fiscal, mas cada um elege suas prioridades e as formas como se conecta ao eleitorado.

Mas o governador de Minas Gerais e pré-candidato à Presidência da República, Romeu Zema (Novo), foi mais fundo que isso. Além de prometer indulto a Jair Bolsonaro (que ainda nem foi condenado por golpe de Estado), afirmou acreditar que a ditadura militar (1964-1985) é uma questão de interpretação.

Isso não é um comportamento que pondera os fatos, mas que os nega.

As declarações foram dadas em entrevista a Fábio Zanini e Juliana Arreguy, na Folha de S.Paulo. Descrentes do que estavam ouvindo, os repórteres ainda reforçaram: “Para não haver mal-entendido, quando o senhor diz ‘acho que não’, acha que não houve ditadura ou é porque não tem dúvidas de que houve?” A resposta: “Acho que tudo é questão de interpretação”.

E, depois de atropelar a razão, ele deu ré e passou por cima dela de novo: “Eu prefiro não responder, porque acho que há interpretações distintas. E houve terroristas naquela época? Houve também. Então fica aí. Acho que os historiadores é que têm de debater isso. Eu preciso me preocupar, hoje, com Minas Gerais”.

Manifestação contra a ditadura militar durante os anos 1980. Foto: Reprodução

Aliás, os historiadores já debateram e a imensa maioria já chegou a um consenso científico há tempos. Os que negam isso são tão levados a sério pela comunidade acadêmica quanto aqueles que defendem que a vacina contra a covid-19 foi inútil.

O governador tem direito a ter sua opinião pessoal, mas não dobrar os fatos às suas necessidades pessoais. Extremistas e políticos manipuladores, grupos sociais guiados por falsos líderes e pessoas com educação miserável podem defender que o Brasil não viveu uma ditadura, a Terra não é redonda e vacinas não atenuam doenças.

Mas a opinião deles não torna os fatos menos verdadeiros, apenas os colocam em uma situação patética diante do resto da sociedade e da História.

Outra coisa que é fato, não opinião, é que muita gente faz de tudo pelo poder.

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Last Update: 04/06/2025